Jairo Pimentel Jr.
Uma questão levantada por alguns analistas e que ainda assola parte deles após os pleitos de 2020 é se as campanhas de TV ainda importam. Tal como argumentou-se anteriormente em outro artigo para a Folha de São Paulo, a importância do tempo de TV para definir os resultados finais das eleições ainda é tema controverso: candidatos com mais tempo de TV tendem a vencer os pleitos, mas, ao mesmo tempo, candidatos melhor posicionados nas pesquisas também tendem a ter mais tempo de TV, o que leva termos uma relação endógena entre essas variáveis, no que denominamos anteriormente também em um outro artigo publicado no Valor Econômico, de “dilema de tostines das campanhas eleitorais”.
Independentemente disso, para além de entender se a campanha de TV importa ou não, o mais relevante é compreender qual a sua lógica e como podemos compreender melhor o caso brasileiro a partir de sua lógica.
Debruçando-se sobre a eleição deste ano nas capitais estaduais, pode-se observar que as coisas não foram muito diferentes do que observado em outras oportunidades: em 44% dos casos venceu quem tinha o primeiro tempo de TV, e em 76%, quem tinha o primeiro ou segundo maior tempo. Por fim, em 84% dos casos o vencedor estava entre os 3 primeiros colocados com maior tempo de TV, algo que não destoa muito dos anos anteriores.

Ou seja, recurso de tempo de TV parece ser um ótimo preditor de quem irá vencer o pleito. Os três primeiros tendem a ser os cavalos a se apostar na grande maioria dos casos.
Entretanto, quem sai na frente nas pesquisas também parece se dar bem. Neste ano, especificamente 68% dos candidatos (17 das 25 capitais, dado quem Macapá não houve eleição ainda no segundo turno por conta da crise elétrica ainda) que estavam na frente nas pesquisas antes da campanha de TV começar (9 de outubro) acabaram vencendo a eleição.
Nos demais 32% de casos (8 cidades) onde houve uma virada, o tempo de TV parece ter tido um impacto não muito claro: em 4 cidades quem tinha menos tempo de TV venceu candidatos com mais tempo (Vitória, com Delegado Pazolini, Maguito Vilela em Goiás, Tião Bocolon em Rio Branco e David Almeida em Manaus(. Nas outras 4, venceu quem tinha maior tempo de TV do que o primeiro colocado na pesquisa inicial (Bruno Covas em São Paulo, Sebastião Melo em Porto Alegre, Sarto em Fortaleza e Emanuel Pinheiro em Cuiabá). Mas em todos os casos percebe-se algo em comum: o vencedor saiu entre os 3 melhores posicionados da pesquisa inicial.

Fonte da posição nas pesquisas: Ibope, com exceção de *Instituto avaliar, **Ranking, ***Alvo Pesquisas, ****Escutec, *****Instituto Credibilidade.
Analisando todos esses dados vemos algo que a ciência política contempla há muito tempo: cada eleição é única, mas existe uma lógica que condiciona os resultados dos pleitos em termos probabilísticos. No nosso caso, saber quais candidatos tem maior tempo de TV e a posição na pesquisa inicial nos permitiu entender quem foram os principais players da eleição e aqueles com maior chance de vitória, e essa parece ser uma lógica presente na maior parte das campanhas majoritárias no Brasil, quiçá no mundo.
Jairo Pimentel Jr é pesquisador do Cepesp