O Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV) estreou hoje uma coluna semanal no jornal Valor Econômico. Os cientistas políticos do Cepesp vão publicar pesquisas e dados sobre as eleições de sete de outubro. Toda terça-feira, será publicado um artigo na versão online do jornal e toda quarta pelo Valor impresso. O tema de estreia foi a redução do número de eleitores por causa do recadastramento biométrico. Os autores são os pesquisadores do Cepesp, Guilherme Russo e Mauricio Izumi.
Abaixo o artigo publicado pelo Valor:
Recadastramento biométrico reduz em 11% total de eleitores
Entre as eleições de 2016 e as deste ano, fazer o recadastramento biométrico passou a ser exigido em quase metade dos municípios do país. Este processo teve um impacto importante no perfil do eleitorado, pois a lista de eleitores deixa de incluir pessoas que não atualizaram suas informações no cartório eleitoral.
Por exemplo, o número de eleitores nos municípios do estado de São Paulo – onde o recadastramento biométrico já foi concluído (100 cidades) – caiu, em média, 11%. Não houve diferença nesse número nos munícipios onde o recadastramento não foi concluído. Esta redução é, em grande parte, explicada pela eliminação de eleitores com 70 anos ou mais do registro eleitoral. Nas 545 cidades do estado de São Paulo sem recadastramento obrigatório, o número de eleitores nesta faixa etária subiu aproximadamente 7% comparado a um decréscimo de 30% nos locais com recadastramento obrigatório.
Essa não é a única mudança no perfil do eleitorado brasileiro em 2018. Nos últimos 24 anos, o número de eleitores no Brasil passou de 95 milhões para pouco mais de 147 milhões. São 52 milhões de pessoas a mais. O estado de São Paulo possui o maior número de eleitores com aproximadamente 33 milhões de pessoas. Isto corresponde a 22,4% do eleitorado nacional fazendo do estado o maior Colégio Eleitoral do país.
Roraima tem menos de 0,3% dos eleitores brasileiros. No entanto, o estado é o que teve o maior boom de eleitores nas últimas décadas. Em 1994 havia 120 mil eleitores em Roraima, enquanto atualmente há mais de 330 mil eleitores registrados no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um crescimento de 176%.
Outra novidade é que a idade média do eleitor tem aumentado: passou de 38,2 anos, em 1994, para 42,5 anos, em 2018. O percentual de pessoas com mais de 60 anos subiu de 11,6% para 18,5% nesse mesmo período. Por outro lado, a proporção de eleitores com idades entre 16 e 24 anos passou de aproximadamente 21,5% para 15,6%, e o grupo entre 25 e 34 anos passou de 27,6% para 21,2%.
As mulheres continuam sendo maioria do eleitorado brasileiro: 52,5%. E a proporção do voto feminino na composição dos eleitores vem crescendo lenta, mas consistentemente nas últimas décadas. Até 1998, o número de homens e mulheres no eleitorado era praticamente igual, mas desde 2000 as mulheres passaram a ser maioria no corpo de eleitores do país.
Apesar de as eleitoras serem maioria no âmbito nacional, há grande variação na composição entre municípios. A cidade com a menor proporção de mulheres é Santa Cruz do Xingu, no estado de Mato Grosso com 43%. Já a cidade com a maior proporção de mulheres no eleitorado é Queimados, no estado do Rio de Janeiro, com 56,9%. O aplicativo do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV) mostra em detalhes o perfil do eleitorado de qualquer cidade do país. (https://rccsilva.shinyapps.io/perfil_eleitorado/)
O eleitorado também tem se tornado mais escolarizado ao longo do tempo. A proporção de eleitores com Ensino Médio completo aumentou de 11,4%, em 2000, para 27,8%, em 2018. Esta mudança é resultado de maior nível de educação quando os jovens se tornam eleitores e de maior estudo ao longo do tempo entre as novas gerações.
Por exemplo, 9% dos eleitores nascidos entre 1980 e 1983 haviam completado o Ensino Médio quando tinham entre 17 e 20 anos (em 2000). Quatro anos mais tarde, esse índice passou para aproximadamente 14% para o mesmo grupo quando tinham entre 21 e 24 anos, representando um aumento de 5%. Já para os eleitores nascidos entre 1994 e 1997, 22,2% havia completado o ensino médio em 2014 quando tinham entre 17 e 20 anos. Quatro anos depois, esse número subiu para 41,5%, representando um aumento de quase 19%.
Persiste, entretanto, um alto grau de desigualdade no nível de escolaridade entre cidades do país. Na cidade com menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Brasil, Melgaço no Estado do Pará, menos de 10% dos eleitores completou o Ensino Médio. Já na cidade com maior IDH do Brasil, São Caetano do Sul em São Paulo, mais de 60% dos eleitores completou o Ensino Médio.
Até que ponto estas mudanças no perfil eleitorado terão um impacto nos resultados das eleições é motivo para uma análise mais profunda, mas os números indicam que candidatos que dependem de votos de grupos demográficos específicos ou em cidades onde houve recadastramento biométrico devem ficar especialmente atentos.