Combate ao Covid-19 exige muita informação e políticas públicas integradas

CEPESP  |  1 de abril de 2020
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O combate à pandemia do coronavirus exige um portfólio integrado de políticas públicas. E quanto maiores e mais detalhadas forem as informações à respeito da doença e das diferentes respostas adotadas por diferentes governos, mais eficaz será a ação para proteger a saúde da população e minimizar os efeitos doa crise do Covid-19 sobre a sociedade e a economia. Diante desta percepção e com o objetivo de contribuir para esse debate, o Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo está organizando uma série de debates em torno do Covid-19, sua evolução, suas consequências e que políticas públicas seu combate demanda. O primeiro evento, sob o título “A Leitura dos Dados de Covid-19”, aconteceu na terça-feira, de 31 de março, e contou com a participação de Diogo Ferrari, professor assistente da Universidade de Chicago, Lorena Barberia, professor do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Cepesp/FGV.

Diogo Ferrari usou a evolução e o mapeamento dos casos na cidade de Nova York para projetar como a epidemia pode afetar a população de São Paulo, e os dados compilados por ele mostram que embora a doença afete mais os mais idosos, a composiçao demográfica de São Paulo fará com que o total pessoas entre 18 e 64 anos que precisarão ser hospitalizadas vai superar o de idosos acima de 65 anos. Em um cenário em que 30% da população paulistana seja contaminada, 245 mil pessoas entre 18 e 64 anos precisariam ser hospitalizadas, enquanto o total de idosos no mesmo cenário seria próximo a 150 mil.

Ferrari usou estes dados, junto com o número de leitos em UTIs e de respiradores à disposição na capital paulista e de indicadores de evolução da doença, para enfatizar a necessidade da importância de medidas de contenção do fluxo de pessoas, e não apenas de idosos. Nas suas projeções, a cidade de São Paulo terá cerca de 70 mil pessoas contaminadas mesmo considerando as medidas de isolamento em torno do dia 13 de abril, e já neste momento, diz, o número de leitos e UTIs será insuficiente. Por isso, diz é importante acelerar os investimentos na montagem dos hospitais de campanha, além de manter as medidas de restrição de circulação na cidade.

Lorena mostrou pesquisas que estão sendo feitas para mapear políticas sendo adotadas pelos governos em resposta ao Covid-19 e dados de opinião pública de diferentes paises e contou que seu grupo de pesquisa no Departamento de Ciência Política da USP está trabalhando na montagem de um indicador que possa apontar que medidas têm sido (e podem ser) mais eficazes no combate à pandemia e suas consequências nos estados brasileiros. “Precisamos de medidas que reduzam a velocidade de transmissão do virus, mas também de política monetária, fiscal e de investimentos”, pontuou a pesquisadora. Ele contou que pesquisadores da Universidade de Oxford elaboraram um indicador com 11 elementos, para os quais são aferidas notas de um a 100 para indicar a maior rigidez (100) ou a ausência da medida (zero), em diferentes países. O Brasil, no indicador de Oxford, está entre os países menos rígidos da América Latina, ficando muito atrás de Argentina e Bolívia. “Mas as repostas na região são muito heterogênas”, explicou Barberia.

O projeto de pesquisa, explicou Barberia, é documentar as medidas brasileiras, combinando melhor o que está sendo feito pelo governo federal, Estados e Municípios para entender como afetam a evolução da pandemia provocada pelo Covid-19 em diferentes locais.

Durante o evento, o celular de Diogo Ferrari tocou e ele contou aos participantes que era uma mensagem do governo de Illinois, explicando que há déficit de pessoal de saúde e pedindo que pessoas com essa habilitação se apresentassem. Essa situação, junto com informação de que o mapeamento pelo celular das pessoas que conviveram com infectados foi importante para países que hoje tem baixo número de casos, como a Coreia do Sul, motivou um debate sobre o uso desta ferramenta e seus limites, em termos de proteção de dados, no Brasil. Você poderá assistir ao seminário aqui, na página do Cepesp no youtube, e também pode conferir as apresentações, abaixo.

Acesse a apresentação de Lorena Barberia aqui

Acesse a apresentação de Diogo Ferrari aqui

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