Há tempos, escândalos de corrupção não são uma novidade no noticiário político brasileiro. A descrença na classe política e em instituições representativas também não é nova, seja aqui, seja mundo afora. Diante desse cenário, a população clama pela renovação.
Candidaturas de novatos é um fenômeno recorrente. Este ano não é diferente. Dos mais de 8 mil aspirantes a deputado federal, 42% não concorreram a uma eleição anteriormente. Mais de 80% nunca assumiram um cargo eletivo, e 94% jamais conquistaram uma cadeira na Câmara dos Deputados.
Esses valores são semelhantes aos da eleição de 2014. Há 4 anos, 38% dos candidatos nunca haviam concorrido a uma eleição, 80% nunca tinham sido eleitos para qualquer cargo, e 94% nunca tinham sido eleitos a deputado federal.
Perfil sociodemográfico
Apesar do número de candidatos novatos ser semelhante ao da última eleição, neste ano o perfil sociodemográfico deles é diferente.
De acordo com a declaração de bens feita pelos próprios candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), os novatos possuem um patrimônio semelhante ao de seus colegas veteranos. Em média, os candidatos aspirantes possuem um patrimônio de R$ 1,87 milhão.
Já os seus adversários veteranos possuem um patrimônio médio de R$ 1,82 milhão. O resultado é o oposto do observado nas eleições de 2014, quando os novatos dispunham de um patrimônio bem menor. Em valores da época, os veteranos eram cerca de R$ 590 mil mais ricos do que os seus adversários calouros.
Média de patrimônio dos candidatos
Em 2018, novatos são tão ricos quanto veteranos, em R$:

O aumento de candidaturas de novatos mais ricos pode ser interpretado como resultado de um conjunto de mudanças nas regras que regem as eleições deste ano.
A primeira, em vigor desde 2015, proíbe que empresas façam doações às campanhas eleitorais. A segunda, em resolução aprovada este ano, define que candidatos poderão financiar integralmente as suas campanhas com recursos próprios, basta respeitarem o limite de gastos imposto ao cargo que concorre. No caso das eleições a deputado federal, o limite é de R$ 2,5 milhões. Nesse cenário de recursos escassos, novatos que dispõem de fartos montantes financeiros para investir na própria candidatura têm incentivos para entrar na competição eleitoral.
Faixa etária
Mas o patrimônio não é a única diferença no perfil dos candidatos deste ano. Nessas eleições, novatos são mais jovens do que os veteranos. Em média, os candidatos que estão na sua primeira eleição têm 45 anos, e aqueles que já passaram pelo processo eleitoral ao menos uma vez na vida são 5 anos mais velhos.
Homens x Mulheres
A proporção de mulheres também é maior entre os candidatos novatos do que entre os veteranos. Há 42% de mulheres no grupo dos novatos e apenas 25% no grupo dos veteranos. A diferença na proporção de candidaturas femininas pode estar associada a uma determinação do TSE que visa ampliar a representação de mulheres em cargos eletivos. De acordo com a lei eleitoral, cada partido ou coligação deve preencher o mínimo de 30% e o máximo de 70% para candidaturas de cada sexo.
Novas legendas
Há diferenças também entre os partidos: os mais novos contam com uma maior proporção de candidatos novatos. O Partido Novo, que obteve o seu registro definitivo junto ao TSE em 2015, terá 88% de suas candidaturas composta por calouros. O Rede e o Partido da Mulher Brasileira, também de 2015, contarão com 57% de candidatos novatos.
Por outro lado, os partidos mais antigos, que obtiveram os seus registros nos anos 1980, possuem uma proporção bem menor de novatos. O Democratas e o MDB contarão com apenas 27% de candidatos que nunca concorreram a uma eleição. Já PT e PSDB terão 28%.
Embora haja muitos novatos pleiteando uma vaga no Congresso Nacional, ser eleito é para poucos. Dentre os 513 deputados eleitos na última eleição, apenas 11% nunca tinham sido candidatos, 17% nunca tinham sido eleitos para um cargo público e 42,5% nunca tinham sido deputados. Mas se o dinheiro for determinante na conquista de uma cadeira em Brasília, as eleições deste ano podem trazer alguma novidade.
Texto originalmente publicado no site Valor Econômico.
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Maurício Izumi é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV)
Este artigo é de responsabilidade do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getulio Vargas (Cepesp/FGV) faz parte da parceria “Eleição em Dados”, será publicado terça-feira em versão digital no “Valor PRO” e na quarta-feira em versão impressa pelo “Valor Econômico”