Eleição em Dados: O novo panorama político brasileiro

CEPESP  |  1 de novembro de 2018
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Congresso_Nacional_-_Brasília

Por Lara Mesquita

Encerrada a contenda de 2018, o primeiro destaque do novo panorama político brasileiro é o debacle do MDB: o partido que afiançou a governabilidade no período da Nova República foi o grande derrotado das eleições de 2018.

Mesmo se desconsiderarmos o desempenho pífio do candidato presidencial do partido (Henrique Meireles teve 1,2%), os emedebistas registraram queda de 35% no total de cadeiras que ocupavam nas assembleias legislativas estaduais, 48% na Câmara dos Deputados e 57% nos governos estaduais, em comparação com 2014. O partido também recuou nos governos estaduais: dos 20,2% dos eleitores que comandava entre 2015 e 2018, o número caiu para 6,7% em 2019.

As maiores bancadas estaduais do partido na Câmara dos Deputados serão as bancadas do Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com quatro deputados federais eleitos em cada Estado. No pleito anterior, o partido elegera bancadas superiores em Santa Catarina (cinco), Rio Grande do Sul (cinco), Minas (seis) e Rio de Janeiro (oito).

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O segundo maior perdedor nas urnas em 2018 foi o PSDB. A situação do partido só não émais delicada porque conseguiu garantir o controle do governo de São Paulo; a duras penas, é verdade. João Doria teve o pior desempenho dos tucanos em São Paulo desde 1994. Mesmo Geraldo Alckmin, eleito em primeiro turno em 2010 com 50,4% (11.519.314) dos votos, recebera mais votos em número absolutos que do o ex-prefeito de São Paulo conquistou no domingo (10.990.160).

Nacionalmente, os tucanos perderam 25% dos deputados estaduais eleitos em comparação com a eleição de 2014, 46% dos deputados federais e 40% dos governadores, além de registrar o pior desempenho na história das eleições presidenciais, com apenas 4,76% dos votos válidos. Em 1989, Mário Covas recebeu o apoio de 11,51% dos eleitores. Os tucanos que haviam eleito 14 deputados federais por São Paulo em 2014, terão apenas seis deputados pelo Estado na próxima legislatura.

Na contramão, o resultado eleitoral do PT revelou a sua resiliência e força organizacional. Além de se garantir no segundo turno presidencial e obter desempenho superior ao dos adversários tucanos em 2002, 2006 e 2010, o partido elegeu o maior número de governadores: 4, ante 5 eleitos em 2014. Os petistas se saíram menos mal que PSDB e MDB nos legislativos estaduais e federais. Perderam 23% das cadeiras que haviam conquistados nas assembleias legislativas estaduais em 2014, e 18% dos postos na Câmara dos Deputados.

As maiores bancadas estaduais do Partido dos Trabalhadores na Câmara virão de São Paulo, Minas e Bahia, com oito deputados cada.

Quem mais se destacou em termos de melhora no desempenho eleitoral foi o PSL. A reboque do bom desempenho de Jair Bolsonaro, o partido cresceu em todos os âmbitos. Na arena estadual, elegeu 3,75 vezes mais deputados para as assembleias legislativas que em 2014, saltando de 16 para 76 cadeiras. Além disso, sem nenhum governo estadual em exercício atualmente, elegeu no último domingo os governadores de Santa Catarina, Rondônia e Roraima.

Na esfera federal, a despeito do único deputado federal que o PSL elegeu em 2014, o partido conseguiu 52 cadeiras neste ano, incluindo os dois únicos deputados eleitos com mais de um milhão de votos. O partido elegeu deputados federais em 18 dos 27 estados, sendo 12 deputados no Rio e dez em São Paulo. Pela primeira vez o PSL chega ao Senado. Garantiu quatro cadeiras na Câmara Alta brasileira, com representantes de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Rio.

Os partidos tradicionais estão, à exceção do PT, provável líder da oposição, dilacerados. Se Jair Bolsonaro conseguir reunir em torno do seu projeto de governo, além do seu PSL, o PP, MDB, PSD, PR, PRB, DEM e PSDB, garantirá apoio de mais de 50% dos membros da Câmara dos Deputados. Se somarmos ao grupo Solidariedade, Podemos e PTB, o novo presidente terá maioria para mudanças constitucionais, mesmo desconsiderando adesões potenciais dos parlamentares eleitos por legendas que não cumpriram a cláusula de desempenho.

Cabe agora ao presidente eleito demonstrar sua capacidade de moderar o discurso, reforçar o argumento da união nacional e formar maioria legislativa em torno do seu programa de governo. Dos 27 governadores eleitos, 14 já declararam apoio à agenda de Bolsonaro. Partidos e deputados dispostos a aderirem é que não faltam.

Texto originalmente publicado no site Valor Econômico.

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Lara Mesquita é doutora em ciência política pelo IESP/UERJ e pesquisadora do Centro de Política e Economia do Setor Público (CEPESP/FGV).

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