Jonathan explica estudo de caso realizado em Bihar, na Índia, e compara com os governos brasileiros
Jonathan Phillips, doutor em ciência política pela Universidade de Harvard e pesquisador do Cepesp, apresentou no dia 5, quinta-feira, na Fundação Getúlio Vargas (FGV) sua pesquisa The Policy Feedback Effects of Programmatic Subnational Reform: Voters’ Collective Confidence in Bihar, India (em tradução literal, “Os efeitos de feedback da política programática de reforma subnacional: Confiança coletiva dos eleitores em Bihar, Índia”). O seminário faz parte da programação da linha de Política e Economia no Setor Público (PESP) da FGV.
A pesquisa estuda governos reformistas e a consequente consolidação de um equilíbrio de confiança entre o político e o eleitorado. Segundo o pesquisador, gera-se a longo prazo uma confiança coletiva, ou seja, o voto do cidadão é coordenado e impulsionado pela expectativa compartilhada de vitória do candidato reformista.
Jonathan analisou a fundo o caso de um estado rural na Índia, chamado Bihar. Notou que, apesar do histórico de apoio ao clientelismo, o governador reformista Nitish Kumar foi reeleito em 2010 – e continua no poder até hoje. Para ele, a mudança no governo foi causada por recompensas produzidas pela política de reformas sociais eficientes. O eleitor passou a votar continuamente em candidatos reformistas, afastando-se do clientelismo.
Durante sua fala, que durou cerca de duas horas, o pesquisador explicou como o eleitorado muda seu comportamento e suas expectativas nas eleições. “A escolha de voto passa a depender de quão provável é a vitória do candidato representante do clientelismo ou de quão provável é a vitória do candidato programático (reformista)”, analisa.
“Programmatic policies” (em tradução literal, “Políticas Programadas”), segundo o cientista político, são as políticas que o cidadão se beneficia independente do seu voto a determinados partidos ou candidatos, pois elas já fazem parte do plano governamental de um país, cidade ou estado. Jonathan exemplifica o Programa Bolsa Família no Brasil como uma programmatic policy, já que não é preciso votar no Partido dos Trabalhadores (PT) para ter acesso à assistência pública.
Segundo ele, a probabilidade de quem vence a eleição “depende um pouco do eleitor”, pois a intenção de voto de cada um influencia a decisão dos outros eleitores, resultando em uma mobilização de apoio a um candidato. Isto é, sinalizando a competência do governante e acreditando que os outros cidadãos tiveram a mesma experiência, o eleitor “vai votar pela reforma se achar que os outros vão”.
Assim como afeta o modo de governança do próprio político. O governante vê que essa fórmula funciona e continua apostando em programas de reformas, gerando um ciclo de feedback positivo entre ele e os cidadãos, mesmo os que não o deram seu voto. Como Jonathan explica em seu paper, a política cria expectativas compartilhadas entre os eleitores e reduz o risco de votar para o clientelismo.
“Se você pensar que o candidato do clientelismo não tem nenhuma chance, você fica feliz em votar no programático. Mas se você acha que o ‘clientelista’ ainda tem chances, sua mente vai te trapacear e você ainda vai querer votar nele, mesmo que todo mundo possa ganhar mais com a vitória do candidato programático”.
O pesquisador do Cepesp demonstrou sua metodologia científica e seu processo de desenvolvimento de pesquisa para explicar como chegou nos resultados encontrados. Jonathan analisou a cultura política da população de Bihar e comparou com um estado vizinho, ambas com características culturais e sociais semelhantes, para entender os motivos de Bihar ter mudado seu comportamento eleitoral e governamental.
Para encerrar o seminário, o cientista político expôs as conclusões que ele chegou com seu estudo. Percebeu que programmatic policy pode mudar o comportamento do eleitor – gerando a confiança coletiva – e, consequentemente, resultar em recompensas políticas, o que enfraquece as redes de clientelismo, mas não mudam as atitudes mais profundas, como corrupção.
Beatriz Caroline Trevisan, estudante de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisadora assistente do Cepesp.