Governança ineficiente impede avanço de educação no Brasil, afirma Ricardo Paes de Barros

CEPESP  |  16 de maio de 2018
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Estudo de economista e professor do Insper revela que investimentos cada vez maiores em educação não geram resultados equivalentes.

Ricardo Paes de Barros, renomado economista, especialista em desigualdade social e pobreza, apresentou em seminário na FGV-SP estudo sobre a dificuldade na produção de resultados positivos no sistema educacional brasileiro. O evento aconteceu, em 10 de maio, e foi promovido pela Política e Economia do Setor Público (PESP).

O economista, que é também estatístico, expôs inúmeros dados do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (PISA) e do INEP para comprovar que o problema do retrocesso da eficiência educacional no Brasil não é causado por falta de investimentos, programas para educação ou legislações estadual e federal. Segundo o professor, a resposta para tal obstáculo é a governança frágil. “Quando a gente olha nos dados do INEP, vemos que tem bastante gente no Brasil que sabe fazer educação. O país tem comprometimento, gasta muito, mas não consegue fazer (educação). É preciso definir bem a governança do sistema”, afirma.

Exemplo da estagnação de resultados é o efeito do desenvolvimento educacional na produtividade do mercado de trabalho. De acordo com dados do Instituto Ayrton Sena apresentados pelo economista, a produtividade no Brasil entre 1980 e 2010 cresceu apenas US$0,2 mil por série adicional no nível escolar do cidadão. O professor esclarece que outros fatores podem ter influenciado na taxa tão baixa, porém o número expõe que a educação “não tem significado para o sistema produtivo” ou que “os empresários brasileiros não sabem aproveitar os trabalhadores educados a que ele tem acesso”.

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Ricardo Paes de Barros, economista renomado e professor do Insper

Outro problema apontado por Paes de Barros é a falta de entendimento de pontos que não funcionaram em sistemas passados. “A gente faz uma discussão de 5 anos para elaborar um novo plano educacional, sem avaliar o que deu certo e errado no antigo. Não temos uma discussão nacional sobre avaliação dos planos educacionais”, explica o professor.

Para ele, isso acarreta na desmoralização do esforço e da honestidade, porque não adianta os líderes educacionais se sacrificarem se não souberem para onde estão indo. “Quando você conversa com um secretário da educação, ele não sabe o que tem que fazer para mudá-la. Ninguém tem, na verdade, um plano para fazer uma mudança educacional”, enfatiza.

Há escolas no Brasil com níveis elevados de qualidade de ensino, como mostra o economista. Paes de Barros questiona por que o sistema educacional federal e estadual não se relaciona com essas instituições, entende o que elas estão fazendo que gera benefícios e copia o projeto. Explica de forma simples como a compreensão dessas governanças eficientes é uma estratégia lógica. “Podemos acabar com o problema da ineficiência da educação copiando quem sabe fazer. Não precisa inventar nada, só copiar”, conclui o professor com uma solução que considera a mais viável e inteligente.

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Beatriz Caroline Trevisan, estudante de jornalismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie e pesquisadora assistente do Cepesp.

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