O economista Gustavo Fernandes, professor do Departamento de Gestão Pública da EAESP-FGV, concedeu palestra no Cepesp sobre sua pesquisa intitulada “A segregação espacial e as redes sociais formadas nas escolas: efeitos sobre renda dos trabalhadores na cidade de Salvador”. O objetivo do trabalho é analisar o perfil das redes sociais estabelecidas entre os moradores de Salvador, a capital brasileira com o maior número de cidadãos declarados negros no Brasil, e seus impactos sobre a renda da população.
O professor Fernandes e pesquisadores da UFBA Gervásio F. Santos e Cláudia Sá Malbouisson Andrade buscaram compreender a dinâmica das relações pessoais formadas no período escolar e como elas atuavam na disseminação de oportunidades de emprego ao longo da vida profissional.”As redes sociais que vão levar o o indivíduo ao primeiro emprego e aos empregos sucessivos são justamente aquelas forjadas na família ou na escola”, explica Fernandes. “Ao invés de olhar simplesmente a segregação espacial, procuramos olhar a segregação nas escolas”. Utilizando dados do Censo escolar de 2010, foram calculados o nível de segregação das escolas em cada bairro de Salvador e tentar inferir o impacto esperado disso no ganho salarial da população entre 18 e 35 anos.
O foco da análise foi a região de Salvador conhecida como o “Miolo”, a região que mais cresce no município. Segundo Fernandes, a partir da década de 1950, a evolução da estrutura urbana de Salvador ocorreu de maneira desorganizada e e gerou um fenômeno de intensa segregação espacial na cidade. O “Miolo” de Salvador, em termos geográficos, é a parte central do município de Salvador, dentro da área urbana. Este se situa entre os dois grandes eixos de circulação viária da cidade, a BR 324 e a Avenida Luiz Viana Filho, conhecida como a Avenida Paralela. A ocupação desta área se deu de maneira acelerada e por uma população de baixa renda.
Com relação às matrículas, os dados do Censo Escolar permitem a segmentação pela cor declarada dos alunos. Foi possível observar que aproximadamente 50% dos alunos são negros (pretos + pardos), 5,6% são brancos, 0,4% amarelos, 0,2% indígenas e 43,9% de cor não declarada. Esses percentuais divergem dos percentuais de cor declarada pela população no Censo Demográfico, que é, aproximadamente, 80% de negros e 19% de brancos.
“A inexistência de uma classe média formada por negros fez com que uma nova população de maioria negra fosse ocupando os bairros mais periféricos da cidade, principalmente na região do chamado “Miolo” da cidade”, comentam os autores. “A análise dos índices de dissimilaridade utilizados para medir a segregação espacial entre alunos negros e brancos na cidade de Salvador, mostra que esta segregação é fortemente influenciada pelo “Miolo” da cidade e pelas escolas privadas, que reúnem a maioria dos estudantes de cor branca. Logo, as escolas privadas e o “Miolo” da cidade são importantes determinantes do padrão de redes sociais formadas nas escolas da cidade de Salvador”.
Os resultados mostraram que o predomínio de brancos nas escolas particulares, naturalmente nas áreas mais abastadas da cidade, faz com que segregação aumente . Além disso, a segregação afeta de maneiras positiva o salário esperado de estudantes brancos, ao passo que reduz a expectativa de renda dos cidadãos negros.
Para saber mais sobre a metodologia usada na pesquisa, leia o artigo na íntegra: A segregação espacial e as redes a sociais formadas nas escolas – efeitos sobre renda dos trabalhadores na cidade.
E assista a palestra de Gustavo Fernandes no Cepesp na íntegra: