Jairo Nicolau (UFRJ): um balanço das eleições municipais de 2016

CEPESP  |  5 de dezembro de 2016
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A melhor forma de capturar a força dos partidos políticos no brasil é olhar os votos para Câmaras Municipais. Todos os partidos competem. Neste ano, foram mais de 400 mil candidatos a vereador. É um sistema de recrutamento da elite política muito democrático. E as pessoas conhecem menos esses dados. O Cepesp Data permite analisar 35 partidos em seis eleições. Fiquei tonto com o volume de informações!

Selecionei três grandes partidos – PT, PMDB, PSDB – para ver como ganharam e perderam nos últimos anos. Verifiquei também a votação de brancos e nulos.

Ao longo do tempo, há um crescimento dos brancos e nulos nas maiores cidades, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Não foram um fenômeno de âmbito nacional em 2016. Com dados do Ipea, observei também que votos brancos e nulos são maiores nas áreas mais prósperas. Quanto maior o IDH em 2000, menor a proporção brancos e nulos. Naquela eleição, os resultados foram contrários aos de 2016. É uma pista. O “recado das urnas” parece ter acontecido nas maiores cidades.

A abstenção política está aumentando em algumas cidades, mas não temos como separar ainda das abstenções por outro motivo. Há um problema de cadastro.

Por que há tantas abstenções? Uma explicação possível é o baixo custo de não aparecer para votar. Os eleitores mais pobres, não vão tirar passaporte, não vão prestar concurso público. A multa é R$ 3 – o ônibus custa R$ 3,80 para ir, R$ 3,80 para voltar, então não vou! Mas estou especulando. Mais pesquisas são necessárias.

Nas eleições para vereador, o desastre do PT foi muito maior do que eu imaginava. O PT despencou em todas as faixas de população. Vinha crescendo até 2012. Despencou especialmente nas maiores cidades. Caiu de 10% para pouco mais de 5% dos votos para vereador. É avassalador. Talvez seja a maior queda de um partido de uma eleição para outra em âmbito municipal. Eu achava que podia haver um descolamento entre as derrotas para prefeito, mais simbólicas (ABC, Recife, São Paulo). Mas essa derrota tem raízes profundas lá embaixo.

Em outros estudos, observei que a melhor associação entre eleições no tempo ocorre entre votos para Câmaras Municipais, Assembleias Legislativas nos estados e a Câmara dos Deputados. Esses dados são um bom preditor para a bancada de deputados federais do PT em 2018.

O PSDB, por sua vez, também vem despencando, especialmente nos municípios mais populosos. A fragmentação partidária, lá embaixo, está comendo votos de partidos de centro-direita. O sistema está tirando votos do PT, PSDB e PMDB.

No que se refere à votação do PMDB para vereador, o padrão é mais lento. Nos municípios menores, o partido mantêm 20% dos votos entre 2000 e 2016. O partido vive do municipalismo.

Não há, no Brasil, um partido que tenha capitalizado a queda do PT – exceto o PSOL no Rio de Janeiro. Não é um fenômeno nacional. O PSD, por exemplo, cresceu nessas eleições, mas partiu de um patamar muito baixo. A fragmentação partidária tem raízes profundas! Câmaras municipais são muito fragmentadas.

A nova legislação eleitoral não impactou as pequenas cidades. As pessoas conhecem os candidatos lá. A dinâmica é outra. Com as novas regras, não tem placa nem outdoor. Os vereadores têm pouco tempo de horário eleitoral e o tempo de campanha ficou muito curto. O horário eleitoral nas eleições municipais em cidades pequenas é pouco importante. Candidatos a vereador talvez não tenham conseguido chegar em seus eleitores. Vários amigos meus, todos com curso superior para cima, me mandaram mensagem no dia da eleição pedindo dicas sobre em quem votar para vereador no Rio de Janeiro.

(Este é um resumo da palestra apresentada por Jairo Nicolau, professor da UFRJ, no evento de lançamento do site Cepesp Data em 10-Novembro-2016)

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