É cedo para o Brasil adotar políticas de relaxamento do distanciamento social. O correto, em termos de políticas públicas, seria uma rodada de endurecimento das medidas adotadas para conter a pandemia do Covid-19. Esta é uma das indicações feitas pelos pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária, formada para estudar a pandemia do Covid-19 e seus impactos no Brasil, na sua 4ª nota técnica. “Com medidas de distanciamento social mais rígidas, o número máximo de casos novos por dia pode ser reduzido. Isto significa uma diminuição na duração da pandemia e nas mortes”, aponta o texto da Rede.
Nesta nota, os pesquisadores traçaram paralelos entre o distanciamento social no Brasil e em outros países, fazendo também um recorte subnacional. De acordo com os pesquisadores, “as decisões sobre o distanciamento social nos estados brasileiros foram introduzidas relativamente cedo, mas o nível de rigidez destas medidas é inferior ao observado em regiões similares de outros países como Argentina, Espanha e Itália. As medidas e a adesão ao distanciamento social dos estados brasileiros são semelhantes às políticas introduzidas nos estados norte americanos”, apontam os pesquisadores.
Uma das preocupações expressas na nota é que “parte significativa dos estados brasileiros começou a sinalizar ou a flexibilizar as medidas de distanciamento social a partir da segunda semana de abril, sem coordenação e sem dados confiáveis sobre número de infectados ou o estágio de expansão da epidemia”. Como resultado, a partir do início de abril, “a adesão ao distanciamento social caiu, inclusive nos estados que não flexibilizaram as medidas”. E como observado pelos pesquisadores, esse relaxamento das medidas e a consequente queda na adesão ao distanciamento social, ocorre mesmo em uma situação de expansão dos casos e dos óbitos relacionados ao coronavírus.
Os mapas abaixo retratam a adesão maior ou menor ao isolamento ao longo das últimas semanas. O rosa representa redução inferior a 55% ou aumento nos deslocamentos, enquanto o azul claro indica adesão superior a 70%. O auge de isolamento, portanto, foi na última semana de março. De lá para cá, o deslocamento das pessoas voltou a aumentar.

Na avaliação dos pesquisadores, “as consequências de uma liberação desordenada apontam para o agravamento da crise na saúde e para mais dificuldades para a recuperação da economia.”
A partir da comparação da evolução da doença e dos índices de isolamento em diferentes países, os pesquisadores construíram os cenários abaixo para o Brasil.

Diante da constatação de que as medidas adotadas até o momento pelos estados brasileiros têm se mostrado insuficientes para gerar o distanciamento social necessário, e de que “países e regiões que impuseram punições ao descumprimento do distanciamento social, como a Itália, a Espanha e a Argentina, ainda que nem sempre no momento adequado, obtiveram taxas de adesão significativamente maiores”, os pesquisadores ponderam que em um “cenário com políticas de distanciamento mais fortes, certamente haverá custos menores em termos de vidas perdidas, uma vez que a curva epidemiológica de transmissão da COVID-19 será revertida mais rapidamente”.
Esta nota técnica foi elaborada sob a coordenação de Lorena Barberia (USP e Cepesp/FGV), com participação dos pesquisadores Natalia de Paula Moreira (USP); Maria Letícia Claro de F. Oliveira (USP e Cepesp/FGV) ; Luiz Guilherme Roth Cantarelli (USP); Fabiana da Silva Pereira (USP); Isabel Seelaender (USP e Cepesp/FGV) ; Marcela Mello Zamudio (USP e Cepesp/FGV) e Pedro Schmalz (USP e Cepesp/FGV). Mais informações sobre a rede na sua página no Facebook.