Para quem estamos construindo o futuro das nossas cidades? Quais as reais demandas dos cidadãos no campo da mobilidade pública e como as inovações tecnológicas podem contribuir para adequar a oferta de transporte público a essas expectativas? Essas foram perguntas que nortearam o painel “Mobilidade do futuro: inteligência artificial, IOT, big data e veículos autônomos” do evento Connected Smart Cities and Mobility 2020. O debate reuniu Ciro Biderman, coordenador do Cepesp e professor da FGV EAESP, Luiz Eduardo Viotti, managing director da Kido Dynamics, Gabriel Gomes de Oliveira, pesquisador da Unicamp e Anderson José Benini, partner da Grow Up Sales Consulting.

O painel iniciou com Benini apresentando a experiência da Grow Up com multimétodos de pagamentos em transporte. Na visão do palestrante essa é uma tendência para a mobilidade do futuro, vez que permite ao usuário escolher a melhor alternativa de meio pagamento para sua realidade e ao operador reduzir custos operacionais e a possibilidade de fraudes. Isso tudo sem prejudicar o serviço ofertado, pois benefícios concedidos pelo sistema, como gratuidades, conseguem ser facilmente incorporados.
O palestrante destacou ainda que investir em multimétodos de pagamento para o transporte público pode ser uma saída para melhoria deste serviço. O uso de protocolos abertos permite uma substituição mais fácil de operadores. Caso a prestação do serviço esteja aquém das expectativas, consegue-se aumentar a eficiência e, por conseguinte, a satisfação dos usuários do transporte público, podendo levar até à reconquista de antigos usuários.
Essa preocupação em garantir a satisfação do usuário foi a temática abordada também por Oliveira, que apresentou sua pesquisa voltada à avaliação do transporte público em uma perspectiva ergonométrica. Para o pesquisador, pensar transporte público demanda uma reflexão focada na experiência do usuário ao utilizar o serviço e, para tanto, registrar variáveis como temperatura e ruído nos ônibus pode trazer informações relevantes para se inferir o grau de satisfação dos usuários.
Viotti, por sua vez, complementou o debate trazendo a perspectiva do uso de big data para embasar a tomada de decisões e construir um modelo de mobilidade integrado e que enderece efetivamente as necessidades da população. Para o diretor da Kido Dynamics no Brasil, o futuro do transporte não está na inovação, mas sim nas escolhas sobre a forma como queremos viver. Nesse contexto, os dados podem trazer insights relevantes sobre essa questão, desde que se tenha capacidade técnica para se extrair valor deles.
Biderman encerrou a etapa de apresentações compartilhando os avanços da parceria do Cepesp com a Prefeitura de São José dos Campos na construção de um modelo de mobilidade do futuro. Como ressaltado pelo professor, as inovações estão bastante concentradas em experiências no setor privado, direcionadas ao transporte individual motorizado, e à falta de governança dentro do setor público para que se multipliquem experiências inovadoras também para o transporte público, como está sendo proposto na parceria.
A fala do coordenador do Cepesp durante o evento serviu para apresentar ao público o novo conceito de mobilidade pública que será implementado em São José dos Campos, que separa a operação dos transportes da tecnologia, e o modelo proposto de cinco plataformas tecnológicas, que em breve serão objeto de contratação. Esse modelo incorpora a ideia de multimétodos de pagamento, apresentada por Benini, buscando inclusive viabilizar a integração de todos os modais em uma plataforma de Mobility as a Service (Maas). Ciro destacou ainda que o projeto endereça a preocupação levantada por Viotti sobre a necessidade de extrair valor dos dados e enfatizou que já são pensadas alternativas, como concursos de startups, para que se estimule a criação de novas usabilidades a partir dos dados que serão gerados.
Durante os debates finais, discutiu-se a preocupação de que as inovações na área da mobilidade não excluam parte da população que não têm amplo acesso ao mundo digital e se projetou também como a pandemia pode afetar essas novas tendências na área de mobilidade. Biderman enfatizou que a pandemia trouxe prejuízos para as operadoras de transporte público e que uma saída seria pensar em novos modelos de contratação mais flexíveis que permitam o transporte público se recuperar mais rapidamente. Viotti, encerrou o painel destacando que podemos fazer previsões, mas que só teremos respostas concretas quando soubermos como as pessoas se comportarão no pós pandemia.