Nas eleições, dados são importantes para informar o eleitor e também para ajudar a combater campanhas de desinformação. Esses foram dois pontos discutidos na terça-feira, dia 13, durante live organizada pela Open Knowledge Brasil, que reuniu as pesquisadoras do Cepesp, Lara Mesquista e Rebeca Carvalho, a jornalista de dados, Cecília do Lago, o coordenador digital de combate à desinformação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Thiago Rondon, com mediação dos representantes da Open Knowledge Brasil, Fernanda Campagnucci, diretor-executiva, e Mário Queiroz, coordenador de Inovação Cívica.

Cecília do Lago falou que, para os jornalistas de dados, existem dois grandes momentos em uma cobertura eleitoral. Primeiro: quando o TSE divulga a base de candidatos e quando saem os resultados. Com a base de candidatos, é possível traçar o perfil de quem está concorrendo (por raça, gênero, profissão, escolaridade, etc), comparar com eleições anteriores e cruzar com outras bases (como a de quem recebeu auxílio emergencial, por exemplo). Com os resultados ocorre a mesma dinâmica: a possibilidade de comparar com pleitos anteriores e também com outras bases de dados.
A jornalista, que começou a trabalhar com dados eleitorais em 2012, comparou a base do TSE com outras bases públicas. Ela explicou que o TSE divulga informações brutas, não organizadas como um banco de dados, mas que o volume de informações fornecido é muito rico e permite um bom trabalho de análise destas informações, embora ainda seja necessário melhorar. “O sonho seria o TSE liberar uma API e acrescentar outras informações, como os endereços dos locais de votação”, observou.
Lara Mesquita lembrou que no início dos anos 2000 os pesquisadores precisavam mandar um ofício por correio para o TSE pedindo os dados e enviar junto disquetes ou CDs para que os dados fossem gravados e devolvidos. Depois, o TSE começou a disponibilizar links temporários para acesso às bases de informação. Com liderança do hoje coordenador do Cepesp, professor George Avelino, a comunidade acadêmica apresentou um pleito para a Justiça Eleitoral facilitar o acesso aos dados eleitorais e dessa demanda nasceu o CepespData, um repositório dos dados do TSE, que hoje pode ser acessado via API ou pela plataforma, com possibilidade de baixar os resultados eleitorais e outros bancos de dados via CSV.
O TSE mantém diferentes bancos de dados (dos votos, dos perfis dos candidatos, das coligações eleitorais, da prestação de contas, etc) e o Cepespdata procura facilitar o acesso organizado a essas diferentes bases e, em alguns casos, já permite a consulta consolidada a elas, embora ainda falte um ID único para o político candidato que permita consolidar todas as bases, informou Mesquita. “O CepespData facilita o acesso aos dados do TSE”, resumiu ela, explicando que, como o interesse é estudar a intenção do eleitor, o CepesData considera sempre o voto declarado na urna, sem incorporar decisões posteriores da Justiça que alterem um resultado para prefeito, por exemplo, pela impugnação de um candidato.
Rebeca Carvalho explicou que especialmente as bases mais antigas trazem problemas de duplicação de dados, CPFs de um mesmo candidato que mudam de um ano para outro, ausência de dados de alguns municípios, o que cria algumas inconsistências nas bases de resultados eleitorais na hora de organizar as informações do banco do CepespData.
Thiago Rondon contou sobre o trabalho que está sendo feito no TSE para combater as chamadas fake news. O TSE fez parcerias com as redes sociais e também com as operadoras de telefonia para garantir que durante o período eleitoral (meses de outubro e novembro) o acesso do eleitor às diferentes plataformas criadas pelo TSE para divulgar informações sobre as eleições e de combate às informações falsas seja feito gratuitamente, sem consumo do pacote de dados. “Muitas plataformas bancam o custo, em dados, do acesso às suas redes e com isso o eleitor fica como que preso em uma internet fechada, onde circula mais a desinformação. Por isso a importância de ninguém pagar pelo plano de dados para ter acesso às informações corretas”, observou Rondon. Da mesma forma que os criadores de desinformação utilizam uma rede para disseminar suas fake news, a ideia é criar uma rede que engaje diferentes atores no combate a essa prática.
O debate pode ser acompanhado no canal da Open Knowledge Brasil, neste link.