Os pesquisadores do Cepesp/FGV, Cláudio Couto e Jairo Pimentel, falaram, em entrevistas, sobre a crise que atingiu o governo Bolsonaro e levou à exoneração de Gustavo Bebianno. Elas foram dadas para o JR News e o Madrugada CBN, respectivamente.

Para Couto, o caso trouxe à tona uma contradição: Bolsonaro se elegeu com um discurso anticorrupção, mas seu partido, e até um de seus filhos, foram atingidos por denúncias e acusações de ações ilegais — o uso de candidaturas laranjas e o recebimento do salário de servidores do gabinete de Flávio Bolsonaro.
Na entrevista, o pesquisador apontou que a queda de um ministro não levará, necessariamente, à queda do governo. Em alguns casos, a saída é até benéfica. Para ele, situações como essa não são incomuns, em especial quando se considera a instabilidade política no Brasil. O elemento novo, porém, é o surgimento de um tumulto tão grande em apenas 45 dias de governo.
Já Jairo Pimentel reforça que, apesar da confusão ser natural no começo de um governo, a situação gera um desgaste político para Bolsonaro. Não pela demissão em si, mas pela forma como ocorreu. O pesquisador a classifica como uma “lavagem de roupa suja em público”, algo incomum no ambiente político.
Ele lembra que Bebianno foi um dos primeiros apoiadores de Bolsonaro, e um grande articulador da sua campanha. Mas, agora, sai pela porta dos fundos. Essa confusão sinaliza para outros políticos uma falta de confiança em relação à atuação do presidente, algo ruim em um meio que valoriza tanto a confiabilidade de alguém.
A forma como Bolsonaro atua dificilmente convencerá os deputados a votarem em algo tão polêmico quanto a reforma da previdência, por exemplo.
Para Pimentel, o que mais pesou na demissão de Bebianno foi a maneira como toda a situação foi conduzida pelo ex-ministro, algo que irritou Bolsonaro e gerou uma desconfiança entre os dois, essencial para o cargo de Secretário-Geral de Governo. Pimentel lembra que muitas pessoas tentaram acalmar a confusão, mas não foi suficiente.
Ele destaca que o uso de candidaturas laranjas, gerador da crise, mostra que a reestruturação do sistema político brasileiro com financiamento público de campanha não resolveu por completo a corrupção e outras práticas ilegais, apesar de, agora, a fiscalização ser mais fácil.
A entrevista para o CBN Madrugada pode ser conferida aqui e para o JR News, aqui.