Um grupo de pesquisadores formou uma “rede de pesquisa solidária” com o “objetivo de calibrar o foco e aperfeiçoar a qualidade das políticas públicas do governo federal, dos governos estaduais e municipais que procuram atuar em meio à crise da COVID-19 para salvar vidas.” Como os pesquisadores explicam, o alvo é melhorar o debate e o trabalho de gestores públicos, autoridades, congressistas, imprensa, comunidade acadêmica, empresas em torno das ações concretas que têm impacto na vida da população.
A rede tem um compromisso com levantamento criterioso de dados, geração de informação de qualidade, criação de indicadores, elaboração de modelagens matemáticas e estatísticas para acompanhar, indicar gargalos e identificar caminhos para as políticas públicas, além de examinar as respostas que a população oferece. A coordenação científica da rede de pesquisadores é de Lorena Barberia, do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Cepesp/FGV. O comitê de coordenação é composto por Glauco Arbix (DS-USP), João Paulo Veiga (DCP-USP), Graziela Castello (Cebrap), Fabio Senne (Nic), José Eduardo Krieger (InCor-FMUSP), Rogério Barbosa (Centro de Estudo da Metrópole-USP) e Ian Prates (Cebrap, USP e Social Accountability International).
Os trabalhos da rede estão divididos em quatro projetos:
1) Monitoramento de políticas públicas: acompanhamento das políticas públicas a partir de indicadores de monitoramento, criados em conjunto com a Universidade de Oxford e avaliar a resposta da população a estas medidas;
2) Monitoramento de opinião pública e de lideranças comunitárias: A partir de lideranças comunitárias e de associações de bairro nas grandes metrrópoles, serão coletadas por telefone informaçõe essenciais de sua condição de vida em meio à crise. O objetivo é identificar e antecipar problemas sociais que, provavelmente, ser ̃ao multiplicados com o avanço da epidemia (fome, saques, desassistência de saúde e outros);
3) Mercado de trabalho e renda: este projeto vai identificar os setores, ocupações e grupos sociais mais expostos aos efeitos econômicos do covid-19, já que a pandemia, ao impactar os empregos, incidirá diretamente sobre a renda dos domicílios e famílias, provavelmente elevando a pobreza, reduzindo o bem-estar e aumentando a desigualdade;
4) Proteção social e políticas emergenciais para mitigar a crise do mercado de trabalho: trabalhando junto com o terceiro projeto, o objetivo é investigar sistematicamente os programas sociais emergenciais elaborados no âmbito federal para aliviar os efeitos da crise sobre o mercado de trabalho;
Além de Lorena Barberia, outros pesquisadores do Cepesp/FGV estão participando da rede de pesquisa e estão especialmente envolvidos no primeiro projeto. Entre eles: Isabel Seelaender, Marcela Mello Zamudio e Pedro Schmalz.
O primeiro boletim da Rede de Pesquisa Solidária traz um mapeamento das respostas dos governos estaduais brasileiros em termos de prevenção e enfrentamento da pandemia do COVID-19. Como os pesquisadores explicam, ele tem por base “um estudo realizado por pesquisadores da Blavatnik School of Government da Universidade de Oxford, no qual foram reunidos indicadores de categorias distintas para avaliar e mensurar a rigidez dessas respostas”. Estes indicadores estão divididos em três blocos: distanciamento social, saúde e política social.
O primeiro boletim trata do distanciamento social, medido pelo Índice de Rigidez do Distanciamento Social (RDS) de cada Estado brasileiro, cuja evolução está retratada na figura abaixo:

O RDS abriga quatro componentes: 1) suspensão das aulas presenciais em escolas e universidades; 2) suspensão das atividades não-essenciais de comércio e serviços; 3) suspensão da atividade industrial não-essencial; 4) proibição de aglomerações e grandes eventos. Os Estados são então classificados, dia a dia, de acordo com a rigidez das medidas, compondo uma escala que vai de um a 100. De acordo com a nota técnica, “os estados reagiram com grande variedade em intensidade e rapidez à chegada do COVID-19 ao país. São Paulo foi o primeiro estado a tomar medidas de promoção do distanciamento social, no dia 13 de março; na mesma semana, a maioria dos estados brasileiros seguiu as medidas implantadas em São Paulo; e na semana seguinte, no dia 20 de março, todos os estados já haviam implementado alguma medida de restrição de atividades com vistas aumentar o isolamento.”
Alguns Estados, informa a nota, “decretaram também o fechamento de indústrias, como é o caso de Alagoas, Ceará e Goiás – ainda que praticamente todos os estados tenham adotado, para o setor industrial, medidas sanitárias e recomendações de alternância de turnos.”