Sexta-feira passada foi um dia estranho. O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), teve contas descobertas na Suíça. O filho do ex-presidente Lula recebeu dinheiro de uma empresa associada à “compra” de uma medida provisória que beneficiou o setor automotivo.
E ninguém prestou muita atenção.
Que vivemos em tempos céticos é óbvio. Mas apatia e desinteresse pelos atos corruptos na política não vai levar a coisa boa. Sobretudo quando nos indignamos somente com a corrupção de nossos adversários políticos.
Antes que me xinguem (ou mesmo depois, pouco me importo), isto é característica tanto de “coxinhas” quanto “petralhas”. Petrobras etc suscitam raiva dos que acham o PT a escória do universo (esquecendo-se do PMDB e vários outros partidos, como o PP, envolvidos do mensalão ao petrolão), enquanto as privatizações de FHC e a suposta compra de votos para sua reeleição são fatos gravíssimos, lesa-pátria, e corrupção nos últimos anos pouco importa – afinal, a pobreza diminuiu.
Nada de novo nem estranho nisso. Vários estudos mostram que se sou simpatizante de um partido, tendo a considerar os atos corruptos de outros partidos muito mais indignantes e graves.
É muito bem documentado o “viés de confirmação” dos cidadãos sobre atos corruptos. Se minha preferência ideológica é X, “confirmo” esta preferência ao ignorar escândalos do meu partido.
(A indignação com atos corruptos pode variar não só com a força de preferências ideológicas e partidárias, mas também com quão importante é a disputa eleitoral – como mostra o cientista políticoAndrew Eggers)
Vale destacar que, de acordo com dois estudos, cidadãos com mais anos de educação formal conseguem “atualizar” suas preferências partidárias de acordo com os escândalos de corrupção. Ou seja, a chance de um simpatizante do PSDB se voltar contra o partido após ouvir falar do escândalo do metrô é maior se ele tiver concluído o ensino superior.
Resumindo: universitários, fica feio defender Eduardo Cunha enquanto atacam o PT. E vice-versa.
(Texto originalmente publicado no blog “Política Com Ciência” em Veja.com)