VOTO A VOTO: 2020 – Mais candidatos, menos partidos

CEPESP  |  5 de outubro de 2020
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Este artigo foi publicado originalmente no jornal Folha de S. Paulo

Por Guilherme Russo*

A eleição de 2020 já apresenta um paradoxo. Ela será conhecida pelo maior número de candidatos na história, mas também será marcada pelo começo da redução no número de partidos no Brasil.

Houve um aumento expressivo no número de candidatos a vereador: de mais de 463 mil em 2016 para mais de 509 mil em 2020. Isto era esperado com o fim das coligações proporcionais; isto é, os partidos já não podem lançar uma lista única de candidatos a vereador ou deputado. Por outro lado, o número de partidos competindo nas eleições municipais caiu sensivelmente. Quatro anos atrás, a média de partidos competindo na eleição para vereador era de quase 14, o que representava um pequeno aumento em comparação a 2012, quando o número era de 13. Já em 2020, a média de partidos competindo é de aproximadamente 7,3.

Essas mudanças nos números de candidatos e partidos variam segundo o tamanho dos municípios. Nos municípios pequenos, o número de candidatos a vereador praticamente não mudou, mas o número de partidos caiu vertiginosamente. Por exemplo, nos 1481 municípios (26,6%) com 5 a 10 mil eleitores, o número médio de candidatos foi de 52 para 53, já o número médio de partidos que lançaram candidatos caiu de 11,7 para 5,6, ou seja, mais da metade. No outro extremo, nos 95 municípios com mais de 200 mil eleitores, o número médio de candidatos subiu de 533 para 661, enquanto o número de partidos que lançaram candidatos também caiu, mas proporcionalmente menos, de 29,7 para 24,6. De forma geral, quanto maior a população do município, maior foi o aumento no número de candidatos a vereador, e menor a queda no número de partidos que entraram na disputa.


Mas nem todos os partidos são iguais. O PSDB reduziu o número de candidatos a vereador de aproximadamente 32,6 mil para 30,2 mil, sendo que o número de municípios em que o partido lançou candidato também caiu de 4632 para 2447. O PT subiu de 22,3 mil para 28,7 mil candidatos – ainda longe dos 41 mil candidatos apresentados em 2012, mas também diminuiu o número de municípios em que lançou candidatos de 4235 para 2912.

No entanto, alguns partidos grandes do chamado “Centrão” mostram crescimento. O DEM aumentou o número de candidatos de 20,4 mil em 2016 para 30,5 mil neste ano, mesmo reduzindo de 3664 para 2374 municípios. Já o PSD subiu de 27 mil para 36,2 mil candidatos, e o PP de 25,7 mil para 35,2 mil. Por outro lado, ambos concorrem este ano em 2850 municípios em comparação a mais de 4,2 mil em 2016.

O PSL, antigo partido do presidente Bolsonaro, também cresceu: de 10,1 mil para 20,3 mil candidatos, sendo que caiu pouco o número de municípios onde o partido estará em disputa, de 1891 para 1587, especialmente quando comparado a partidos menores como PRTB, PSC, PMN e PTC. O PMN, por exemplo, lançou apenas 4,6 mil candidatos em 323 cidades, comparado a 7 mil candidatos e 1254 cidades em 2016.

Um caso que ilustra esse processo é o município de Viana (MA), onde 29 partidos lançaram um total de 107 candidatos a vereador em 2016, enquanto apenas 9 partidos lançaram 167 candidatos no pleito deste ano, incluindo 23 do PSDB, 23 do PSL e 19 do PT.

Essa queda no número de partidos nos municípios é importante porque pode influenciar na redução de partidos na Câmara dos Deputados e Assembleias estaduais. Pesquisas mostram que deputados se beneficiam quando seus partidos têm apoio de lideranças locais. Portanto, a diminuição do número de partidos nos municípios deverá aumentar a força do grupo de remanescentes e facilitar a escolha do eleitor.

*Guilherme Russo é doutor em Ciência Política pela Universidade Vanderbilt e pesquisador do  FGV Cepesp

Voto a voto – Esta coluna é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV Cepesp).

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