A interação entre governos, academia e setor privado como chave para inovação

CEPESP  |  9 de dezembro de 2020
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Tríplice hélice: caminho da inovação

A interação entre setor público, academia e setor privado como caminho para inovação foi o centro do debate organizado pelo projeto Colmeia do Parque Tecnológico de São dos Campos para discutir mobilidade. O debate foi mediado por Luiz Carvalho, coordenador do escritório de projetos do Parque Tecnológico, e reuniu, entre outros, o secretário de Mobilidade Urbana de São José dos Campos (Semob), Paulo Guimarães; o coordenador do Cepesp, Ciro Biderman, e William Chernicoff, da Toyota Mobility Foundation.

O secretário de Mobilidade Urbana de São José dos Campos (Semob), Paulo Guimarães, destacou que a inovação tem sido uma marca da cidade, não apenas no transporte, e que isso têm sido feito junto com a academia. “A cidade tem sido um espaço para juntar o que é mais inovador no ambiente da academia com aplicação prática”, disse ele. Guimarães destacou o novo modelo para o transporte coletivo da cidade que está sendo desenvolvido em parceria com o Centro de Política e Economia do Setor Público (FGV Cepesp), que entre outras novidades introduz o modelo de ônibus sob demanda e separa a operação do transporte da tecnologia para organizar essa operação.  Guimarães relatou o desafio que os aplicativos de transporte trouxeram para a gestão do setor público ao retirar parte dos passageiros (e consequentemente reduzir o faturamento) do sistema.

 Antes da pandemia, informou o titular da Semob, o sistema de transporte coletivo de São José dos Campos transportava 300 mil passageiros dia e faturava cerca de R$ 15 milhões por mês, valor que caiu para R$ 11 milhões. E apenas uma empresa de aplicativo, a 99, faturou em novembro deste ano o mesmo valor, ou seja, R$ 11 milhões. “O modelo de transporte coletivo que opera na maioria das cidades é muito engessado, quadrado, e por isso estamos propondo esse novo sistema”, disse ele, acrescentando que a reformulação do Plano Diretor da Cidade já introduziu o conceito de centralidades, que significa criar pequenos centros autônomos na cidade (com oferta de saúde, educação, de empregos, comércio, etc) que permita reduzir o deslocamento das pessoas. “A melhor mobilidade é a não mobilidade”, defendeu Guimarães.

Participantes do debate : a partir do alto à esquerda em sentido horário: Agenir Dias, Ciro Biderman, William Chernicoff, Luiz Carvalho, Leonardo Libório e Paulo Guimaraes

O coordenador do Cepesp, Ciro Biderman, ressaltou a importância da integração de setor público, academia e empresas como chave para a inovação. Ele argumentou que a academia, além de manter seu foco em ciência pura, precisa cada vez mais se preocupar com a ciência aplicada porque é através dela que as pesquisas vão gerar impacto social. Ele citou o exemplo da Coreia do Sul onde a conexão entre empresas e academia é obrigatório e a chave para avanços tecnológicos.

Usando dados trazidos por Luiz Carvalho, coordenador do escritório de projetos do Parque Tecnológico e mediador do debate, Biderman ponderou que o Brasil chegou a ser a sétima economia do mundo, mas perdeu essa posição “porque não tem saído do 62º lugar no ranking de inovação”. “O que realmente traz crescimento, de verdade e sustentado, para um país é o avanço tecnológico”, argumentou Biderman. Mas a inovação, defendeu, não é algo que venha como um passe de mágica, fruto de ação isolada ainda que grandes descobertas dos séculos XIX e XX tenham resultados de esforços individuais de pesquisadores.

A academia, disse Biderman, está mudando a forma como se faz pesquisa e em algumas áreas começou a fazer a conexão entre a ciência aplicada e as necessidades das políticas públicas, em busca de soluções para problemas reais enfrentados pelo setor público. Uma dificuldade, acrescentou, é trazer mais empresas para esse caminho. “Muitas ainda preferem ser contratadas pelo setor público para executar um projeto definido e não ajudar a encontrar melhores soluções, desenvolver inovações”, disse ele.

William Chernicoff, da Toyota Mobility Foundation, reforçou a ideia de que tecnologia não funciona no vácuo e por isso é importante o trabalho conjunto dos atores públicos, privados e da academia. Ele falou do projeto que está sendo desenvolvido para a mobilidade do Parque tecnológico de São José dos Campos, e explicou que o primeiro passo foi realizar uma pesquisa para mapear como as pessoas se locomovem entre a cidade e o Parque Tecnológico, o que se insere em um projeto mais amplo da fundação, chamado de “Future Mobility Districts”. Também são parceiros nesse projeto a Bynd, a Unesp e o Cepesp.

Leonardo Libório, co-fundador da Bynd, trouxe dados mostrando que em uma cidade como São Paulo, 76% de todos os deslocamentos motorizados são gerados pelo trabalho. A Bynd é uma startup que, entre outros, pontos, estuda como o transporte pode melhorar a qualidade de vida dos colaboradores de uma empresa, sua produtividade e também a vida nas cidades. Um dos projetos da Bynd é p “bynd-caronas”, que procura gerar conexões entre as pessoas (partindo do pressuposto de que muitas pessoas tem trajetos diários semelhantes) para reduzir os carros que circulam vazios, o que traz redução de custos para as pessoas e de poluição para as cidades. Esse conceito de mobilidade compartilhada, disse ele, é um dos que a empresa está trazendo para o projeto de mobilidade do parque de São José dos Campos. Ele inclui um aplicativo que une os aplicativos de transporte (Uber, 99, Cabify) que possa, inclusive, reduzir o uso de ônibus fretados (cujas rotas, muitas vezes, são muito longas e por isso menos atraentes para os usuários). “O futuro da mobilidade é compartilhado”, resumiu Libório.

Silvio Simões, da Unesp, explicou o survey que foi feito para mapear os usuários do Parque Tecnológico, feito com mil pessoas. Esse survey reuniu várias informações de localização, o que permite transformar os dados em mapas, facilitando o planejamento da mobilidade e também o uso das informações pelo cidadão. Simões destacou que é fundamental que os envolvidos no projeto pensem em um laboratório de análises geoespacial, que trate da integração destes dados, com preocupação de monitorar, modelar, analisar, organizar, criando uma base única dos dados de mobilidade.

O debate pode ser assistido na íntegra nesse link.

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