O terceiro entrevistado da série “CEPESP NAS ELEIÇÕES” é o professor da FGV-SP George Avelino. Assim como os demais pesquisadores ouvidos, Avelino disse que ainda não conseguiu compreender o que seria a “nova política” defendida pela candidata do PSB à Presidência, Marina Silva.
“De certa forma, esse discurso lembra muito o ‘diferente de tudo que está aí’ brandido pelo PT nos seus primeiros anos”, diz o professor.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
1) Esta eleição presidencial tem sido uma das mais acirradas – e inusitadas – desde 1989. É um sinal de que estamos chegando à maturidade democrática?
Já tivemos eleições acirradas antes (por exemplo a de 1989, envolvendo Lula e Collor), mas não acho que o acirramento seja a característica maior dessa eleição, muito menos que isto seja sinal de que estamos chegando à maturidade democrática. Se entendemos a maturidade democrática como transição pacífica do poder a partir de eleições competitivas, o Brasil tem se saído muito bem; nesse caso, o momento mais marcante talvez tenha sido a transição entre os governos de Fernando Henrique e Lula.
2) Temos visto um sentimento anti-PT muito forte. Depois de quase 12 anos, o partido ainda tem capital político para garantir a permanência no poder?
Não sei se é necessariamente um sentimento anti-PT ou anti-governo. O quadro tem semelhanças com aquele de 2002 e o sentimento, mais de desgaste do governo, era parecido. Quanto a possibilidade de permanência no poder, o PT hoje é a melhor máquina partidária do país, além de possuir outros recursos, tais como ter a atual presidente como candidata à reeleição, e ser apoiado por uma coligação partidária ampla, o que leva esta coalizão a deter a maior fatia no horário eleitoral. Portanto, o PT tem chances razoáveis de vencer as eleições e permanecer com a Presidência; mas, mesmo perdendo, vai ser um partido muito influente na política brasileira.
3) Qual a sua opinião sobre a “nova política” defendida por Marina Silva (PSB)?
Até agora não consegui entender o que significa essa “nova política”. De certa forma, esse discurso lembra muito o “diferente de tudo que está aí” brandido pelo PT nos seus primeiros anos. As duas posturas implicavam recusa às instituições vigentes, com a consequência natural de algum tipo de “apelo direto” aos eleitores e grande instabilidade política, ou ao uso de “métodos heterodoxos”, o que dá no mesmo. No caso do PT, a liderança de Lula e a força da organização partidária da sigla levaram ao convívio com as instituições, isso depois dos primeiros anos de governo, quando se recorreu a “métodos novos” na relação com o Congresso.
4) Pela primeira vez o PSDB pode ficar de fora do segundo turno de uma eleição. O partido está perdendo força? Onde ele errou?
O progressivo enfraquecimento do PSDB é um processo mais complexo. Ele se inicia na dificuldade do partido em se organizar nos níveis locais e estaduais, o que pode ser demonstrado no caráter aristocrático das suas lideranças e as dificuldades dessas lideranças em mobilizar seus seguidores. Destarte, o PSDB vem progressivamente reduzindo o seu número de deputados, prefeitos, conseguindo apenas manter alguns governos estaduais de relevância, notadamente o de São Paulo. Finalmente, a dificuldade de organização do PSDB também se expressou no tipo de oposição ambígua que ele fez aos governos petistas, sempre com alguns setores do partido mais favoráveis e outros menos a posturas mais firmes. Essa ambiguidade levou à desqualificação do PSDB como canal de expressão da insatisfação de boa parte do eleitorado com o atual governo.
5) Faltam poucos dias para o primeiro turno das eleições. O que podemos esperar da campanha até lá?
Se não acontecer nada de muito grave, teremos um segundo turno entre as candidatas Dilma e Marina. Esse quadro está aparentemente estável; afinal, depois de algum tempo de campanha, com a exceção da subida de Marina e a queda de Aécio, os números têm se mantido relativamente estáveis: o apoio a Dilma e Marina tem oscilado entre 30 e 40% dos eleitores; e apoio a Aécio entre 15 e 25%. Além disso, a avaliação do governo também tem apresentado poucas oscilações. Até lá o que pode ocorrer é um contínuo sangramento da candidatura Aécio Neves, com algumas “mudanças de lado”, e um “fogo pesado” do PT na desconstrução da imagem de Marina, na tentativa de livrar mais alguns pontos de vantagem no primeiro turno. Como se sabe, as “viradas eleitorais” no segundo turno têm sido raras, sendo mais raras ainda as grandes viradas; portanto, ampliar a diferença eleitoral neste primeiro turno por mais alguns pontinhos pode aumentar as chances de vitória no segundo turno.