Artigo publicado pelo pesquisador Sérgio Praça, na revista Época Negócios.
Um jeito mais simples e direto de amenizar problemas sociais que chamam nossa atenção
Quando Isadora Faber, aluna de 13 anos de uma escola pública em Florianópolis, criou um perfil para denunciar maus professores, comida ruim e outras mazelas de sua escola, sua página virou um sucesso instantâneo na internet e ela ganhou mais de 200 mil seguidores. Pessoas de todo o Brasil se solidarizaram com a situação dos alunos da escola de Isadora (que, aliás, está acima da média das escolas municipais catarinenses no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica).
Também foi rápida e massiva a solidariedade expressa no caso do limpador de vidros David Santos Souza, atropelado no mês passado pelo estudante Alex Siwek, que dirigia embriagado na Avenida Paulista, em São Paulo.
Não seria natural usar esse apoio espontâneo resolver – ou pelo menos amenizar – problemas pontuais que comovem a sociedade? Que tal se cada cidadão interessado se dispuser a doar algo, à moda das campanhas públicas nos casos de enchentes (como a de Santa Catarina ou do litoral do Rio de Janeiro) ou desastres internacionais (como o terremoto do Haiti)?
O modo tradicional para atuar em casos de repercussão pública é fazer lobby para que aumente o orçamento da Defensoria Pública do estado (no caso de David) ou da secretaria de Educação (no caso de Isadora). Só que essa solução traz embutido um alto custo de associação: é preciso achar quem se disponha a acompanhar a discussão orçamentária, entre a minoria de pessoas entendidas o suficiente para lidar com os meandros burocráticos de secretários, governador ou prefeito e parlamentares.
Uma alternativa seria o cidadão necessitado de serviço disponibilizar seus dados bancários para colher colaborações. É uma solução razoável se conhecemos bem para quem estamos dando dinheiro, mas muita gente hesita em depositar dinheiro na conta de um anônimo. No caso do ciclista, surgiu uma solução intermediária: uma empresa decidiu doar a ele um braço mecânico.
Talvez haja um modo mais eficiente de ajudar em casos de grande repercussão: que tal promover uma espécie de crowdfunding (financiamento pela multidão)? O serviço já se mostrou viável para financiar projetos, de criar produtos a realizar shows. Há até sites especializados em intermediar a doação: as pessoas se comprometem a permitir que uma quantia escolhida seja debitada de seu cartão, caso o projeto consiga amealhar gente (e dinheiro) suficiente.
A organização desse “crowdfunding cidadão” tornaria a participação política menos custosa, bem mais pontual e, provavelmente, mais eficaz do que fazer lobby e passeatas. Quem sabe não se poderia evoluir até para um orçamento extra-estatal, formado a partir de contribuições voluntárias para causas nobres?
Sérgio Praça é professor da UFABC e mantém o blog “Estado e Cia.” no site da Negócios