Estudo aponta que foram feitos menos testes para Covid-19 em regiões mais vulneráveis de SP

CEPESP  |  6 de novembro de 2020
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O Estado de São Paulo foi e ainda é um dos epicentros da pandemia da Covid-19 no Brasil e tem 62% de sua população atendida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Enquanto a vacina contra a Covid-19 não chega, como funcionou, no Estado, a realização de testes para identificação da doença e prevenção da população? No final de agosto de 2020, o Estado de São Paulo havia realizado 3,049 milhões de testes do tipo RT-PCR, representando 6.640 testes a cada 100 mil habitantes. Mas como essa testagem se espalhou pelo território? De acordo com estudo de pesquisadores da Rede de Pesquisa Solidária e do Observatório Covid-19 Br, publicado no site especializado Medrxiv, as regiões mais vulneráveis e, portanto, mais dependentes do SUS, foram menos atendidas por testes. E o número de testes RT-PCR caíram ao longo da pandemia.

No estudo, os pesquisadores ponderam que os RT-PCR são considerados o melhor teste para controlar a transmissão de SARS-CoV-2  e parte essencial de uma estratégia de vigilância que também deve incluir a identificação e isolamento de indivíduos infectados, garantindo a quarentena de pessoas que estiveram em contato com aqueles com teste positivo. 

Os pesquisadores usaram as 17 regiões de saúde na qual o atendimento público de saúde do Estado está organizado e desenvolveram um índice com base em sete indicadores para medir e avaliar o esforço de testes de RT-PCR no Estado, usando as recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Centro para Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), do Instituto de Saúde Global da Universidade Harvard e do Covid-19 Tracking Project, um projeto voluntário para reunir informações sobre testagem nos EUA. Os indicadores envolveram: alvos de teste diário para testes RT-PCR;  taxa de positividade de RT-PCR; tempo de resposta do teste de diagnóstico; capacidade de processamento de teste de laboratório público local ou regional; número de testes; porcentagem de casos entrevistados para mapear a rede de contatos; e qualidade dos dados de teste RT-PCR fornecidos.

Os pesquisadores usaram dados do governo paulista para analisar a testagem e a evolução de casos entre as semanas epidemiológicas 10 e 35 (início de março e final de agosto). A pontuação dos sete critérios foi transformada em uma escala de 0 a 100, onde 100 indica o maior esforço de testagem possível, mas a pontuação mais alta que o estado de São Paulo chegou foi de 50, no começo da pandemia. E essa pontuação nunca foi mantida por mais de duas semanas seguidas em nenhuma região. E algumas nunca a atingiram.

Esses dados de testes versus o  número de casos foram cruzados com indicadores de vulnerabilidade econômico-social (baseados em dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e esse levantamento mostrou que nas regiões de saúde vulneráveis, e que também dependem, em maior medida, do sistema público de saúde, foram registrados os menores valores. E a presença, ou não, de um laboratório público na respectiva região também afetou a capacidade de vigilância durante o período estudado (março a agosto de 2020). 

A região de Registro (Vale do Ribeira) é um exemplo. Região de maior vulnerabilidade social entre as 17 regiões de saúde de São Paulo, na escala de zero a 50, nas 26 semanas epidemiológicas analisadas, esteve no menor nível de testes (11) em 18 delas e em apenas duas ficou em 44, próximo do nível máximo de 50 registrado no Estado (os mapas agregam as semanas de duas em duas).

O estudo da Rede de Pesquisa Solidária, que tem apoio do Centro de Política e Economia do Setor Público (FGV Cepesp) é assinado por Tatiane Cristina Moraes de Sousa, Natalia de Paula Moreira,  José E. Krieger, Isabel Seelaender Rosa, Marcela Zamudio, Maria Amélia Veras, Brigina Kemp e Lorena Barberia. Ele pode ser acessado, na íntegra, aqui.

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