Nas últimas semanas, houve uma disputa política arraigada de vários partidos em busca de formar coligações que permitissem oferecer tempo de propaganda eleitoral gratuita para os candidatos à Presidência.
No Centrão se tornou objeto de desejo da esquerda e da direita (mais especificamente de Ciro Gomes e de Geraldo Alckmin), mostrando a face mais pragmática de alguns dos principais candidatos.
Enquanto isso, outras das principais candidaturas (Marina e Bolsonaro) sequer conseguiram ou tentaram flertar com esse grupo de partidos. Desdenharam de tais investidas e as condenaram por compactuar com o fisiologismo e, com isso, minguaram no tempo de TV.
Mas afinal, tempo de TV importa para vencer uma eleição? Trabalhos acadêmicos nessa área de pesquisa comprovam que existe uma associação entre ter mais tempo de TV e melhor desempenho nas urnas. Entretanto, o contrário também pode ser constatado como verdadeiro: ter maior intenção de voto, antes de a campanha começar, tende a gerar mais tempo de TV para os candidatos.
A razão disso é um tanto óbvia: candidaturas que conseguem agradar a opinião pública tendem a ser bem vistas por outros partidos que desejam ter acesso a cargos em um futuro governo por meio de coligações.
Temos assim, o famoso ‘dilema de Tostines’. Para aqueles que não lembram: “Tostines vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho por que vende mais?” Esse slogan aplicado às campanhas eleitorais de TV significa que ter mais tempo de TV gera mais voto e ter mais voto gera mais tempo de TV, no que é chamado nas ciências de endogeneidade causal.
É possível afirmar que tanto o voto inicial quanto o tempo de TV são elementos importantes para o sucesso eleitoral, mas para avaliar o impacto efetivo do tempo de TV sobre esse sucesso se faz necessário controlar estatisticamente o efeito do voto inicial.
Foi realizado tal controle, a partir de uma base de dados de 102 eleições municipais em capitais brasileiras e com mais de 700 candidatos, o que permite ter uma amostra grande suficiente para realizar esse tipo de análise estatística.
É possível observar duas coisas: em primeiro lugar que, em praticamente todas as faixas de voto inicial, existe a tendência de quanto maior o tempo de TV, maior a taxa de sucesso eleitoral. Em segundo lugar, observa-se que quanto maior o voto inicial e maior o tempo de TV, melhor desempenho das candidaturas.
No total da amostra, 58% dos candidatos com 30% ou mais de tempo de TV teve sucesso eleitoral (foi eleito ou reeleito). Entretanto, essa taxa chega a 79% entre aqueles que tinham antes da campanha 30% ou mais de intenção de voto.
Uma possível forma para apontar um candidato favorito em uma campanha eleitoral é observar se ele possui uma alta intenção de voto inicial e um grande tempo de TV. E o que isto significa para eleição presidencial deste ano? Simples: não existe esse candidato favorito.
É inclusive curioso notar que aqueles mais bem posicionados são os que possuem menos tempo (Bolsonaro e Marina), enquanto aqueles que contam com maior tempo ainda patinam nas intenções de voto (Alckmin e Meirelles), o que ajuda a explicar porque há um cenário tão imprevisível.
Mesmo com Alckmin tendo garantido maior quinhão do tempo de TV, a incerteza permanece como antes. Ele ganha sobrevida, mas ainda luta contra a correnteza. Muito pior para ele seria se não tivesse garantido esse quinhão, mesmo tendo agora o ônus de se aliar ao depreciado Centrão.
Já Bolsonaro e Marina não possuem quase tempo de TV, mas tem uma quantidade interessante de intenção de votos. Bolsonaro ainda se segura nas redes sociais.
Por sua vez, Ciro parece ter perdido a linha (de novo), o Centrão e agora o PSB, mas ainda conta com boa fatia de votos.
Sem mencionar Haddad, que mesmo com pouco tempo de TV terá o apoio de Lula, e esse fator não pode ser desprezado.
Texto originalmente publicado no site Valor Econômico.
****
Jairo Pimentel Jr. é cientista político e pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV).
Este artigo é de responsabilidade do Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (Cepesp/FGV) faz parte da parceria “Eleição em Dados”, será publicado terça-feira em versão digital no Valor Pro e na quarta-feira em versão impressa pelo Valor Econômico.