RODANDO OS DADOS – O atraso na notificação de casos de Covid-19

CEPESP  |  1 de outubro de 2020
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Por Carolina Coutinho*

O fluxo de notificação de casos suspeitos de covid-19, estabelecido pelo Ministério da Saúde, determina notificação imediata de casos leves de síndrome gripal (SG) no e-Sus-VE, bem como de casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), no Sivep-Gripe. No entanto, em função de diversas barreiras e processos de trabalho locais, o que se vê na prática é um atraso significativo para digitação dessas informações nos sistemas oficiais de informação.

A avaliação da oportunidade de notificação de um agravo transmissível, que em geral estuda o tempo entre a data dos primeiros sintomas, o preenchimento do formulário de notificação e a sua digitação no sistema de informação têm sido objeto de estudo antes mesmo da epidemia de Covid-19.  No entanto, em função da magnitude da epidemia atual, da adesão aos sistemas de informação oficiais e de outros fatores locais, esse tempo parece variar ainda mais.

As figuras abaixo apresentam os casos de SRAG por Covid-19 registrados no SIVEP-Gripe entre as semanas epidemiológicas 11 e 35, em diferentes Estados do País: Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo.

Estão representados os casos por semana epidemiológica, segundo data de primeiros sintomas (referidas pelo paciente), do preenchimento da notificação (provável atendimento no serviço de saúde) e da digitação. De início, é possível observar flutuações intraestaduais e interestaduais.

No caso do Amazonas, que enfrentou problemas de insuficiência de leitos nos primeiros meses da epidemia, observa-se grande diferença entre as datas de primeiros sintomas e a de digitação, especialmente até a semana epidemiológica 21. Na semana epidemiológica 17 (início da segunda quinzena de abril), quando a imprensa noticiou o colapso da rede pública de saúde do Estado, o número de casos digitados no sistema referentes àquela semana era menor do que a metade do número de casos já notificados para o mesmo período.

Em Pernambuco, chama a atenção que a partir da semana epidemiológica 26 (última semana de junho), há um aumento considerável no volume de digitação. Esse movimento pode estar associado a processos internos de trabalho das secretarias municipais e Estadual de Saúde, de maior adesão ou atualização dos dados nos sistemas de informação oficiais, por exemplo.

No Rio grande do Sul, que teve um aumento mais lento do número de casos de SRAG por Covid-19 nos primeiros meses do ano, as diferenças entre o número de casos segundo as datas de referência foram menores.

A análise da situação epidemiológica atual pode ser comprometida se não considerar o atraso na notificação de casos e óbitos. É também por esse motivo que se recomenda cautela na interpretação dos dados das semanas recentes.

Para avaliar o estágio da epidemia e planejar ações em saúde e políticas públicas é necessária uma avaliação multifatorial, combinando, além do número de casos e óbitos recentes, outros diferentes indicadores, como taxa de ocupação de leitos regionais e municipais, o tempo de espera nas filas de regulação, entre outros.

Os dados foram obtidos através da plataforma de dados abertos do Ministério da Saúde, no dia 20/09. A visualização é uma elaboração da assistente de pesquisa do Cepesp, Rebeca de Jesus Carvalho


*Carolina Coutinho é epidemiologista, pesquisadora do Cepesp e bolsista FAPESP -2020/06990-6

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