VOTO A VOTO: A geografia do voto

CEPESP  |  26 de outubro de 2020
COMPARTILHE

Essa coluna foi publicada originalmente no jornal “Folha de S. Paulo”

Por George Avelino, Jonathan Phillips e Frederico Ramos*

O que faz um candidato a vereador durante as eleições? Muita gente pensa que, uma vez iniciada a campanha, os candidatos se dedicam a buscar votos de forma indiscriminada entre os eleitores do município. Longe disso, a campanha eleitoral começa muito antes, com planejamento e a adoção de estratégias eleitorais pelos partidos e seus candidatos. A geografia do voto ajuda a entender as estratégias adotadas ao revelar como os votos se distribuem no espaço.

Como se sabe, as eleições proporcionais brasileiras são regidas pelo sistema de lista aberta, no qual o eleitor pode votar tanto no candidato como na legenda do partido. Na contagem dos votos, primeiro se somam todos os votos da lista – nos candidatos ou na legenda – para distribuírem as vagas de forma proporcional, depois se determinam os eleitos através da ordenação dos candidatos pelos votos recebidos. Assim, existe competição em dois níveis: uma entre os partidos, que buscam alcançar o maior número total de votos para obter mais vagas e, outra intrapartidária na qual seus candidatos disputam votos para alcançar as melhores posições na lista na busca da eleição.

Essa dupla competição faz com que os dirigentes partidários usem a geografia do voto para limitar a competição entre os candidatos do partido pelos mesmos eleitores. Mal maior, a competição intrapartidária, além de reduzir o desempenho da lista como um todo, também seria nociva para os candidatos individualmente, já que a divisão dos votos reduziria a chance de alcançar as primeiras posições na lista do partido.

Na escolha dos candidatos, dois perfis geográficos de votos são mais comuns. O primeiro seriam os “candidatos de redutos”, ou seja, candidatos com forte atuação em regiões da cidade e, portanto, com votos concentrados naqueles locais. São lideranças locais que buscam se eleger com o apoio de moradores de bairros ou comunidades com promessas de melhorias e investimentos para estas áreas. Uma estratégia eficiente do ponto de vista eleitoral seria distribuir essas candidaturas de acordo com as diferentes áreas de influência na cidade, evitando a sobreposição destas áreas e a competição intrapartidária.

O segundo perfil seria o dos chamados “candidatos de opinião”, cuja distribuição de votos seria mais dispersa e, a priori, não disputaria intensamente votos com nenhum “candidato de reduto” do próprio partido. Esses candidatos podem representar opiniões apoiadas pelos eleitores, independentemente do seu local de moradia. Incluem-se também nessa categoria as “celebridades”, tais como artistas, ex-atletas e, mais recentemente, os “influenciadores digitais”; todos capazes de atrair votos dispersos entre as diversas áreas da cidade.

Os mapas eleitorais, extraídos do CepespData (cepespdata.io), mostram que na última eleição para vereador em São Paulo, os dois candidatos mais votados tiveram geografias de votos que exemplificam os dois perfis acima. Eduardo Suplicy (PT) foi o mais votado com mais de 300 mil votos distribuídos em praticamente todos os locais de votação da cidade – as escolas, ginásios e outros locais onde se concentram as urnas. O segundo candidato mais votado foi Milton Leite (DEM). Ele recebeu cerca de 110 mil votos; porém, praticamente todos seus votos (95.6%) se concentraram na região sul do município. Em contraste, Suplicy teve apenas um terço de seus votos na zona leste, região que mais contribuiu para a sua eleição.

Visualização publicada no jornal Folha de São Paulo

*George Avelino é coordenador do FGV CEPESP, doutor em Ciência Política pela Stanford University e professor da FGV EAESP 

*Jonathan Phillips é pesquisador do FGV CEPESP, doutor em Ciência Política pela Harvard University e professor doutor da Universidade de São Paulo

*Frederico Ramos é doutor em Administração Pública e Governo pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e pesquisador do FGV CEPESP

A coluna VOTO A VOTO é uma parceria da Folha com o Centro de Política e Economia do Setor Público da Fundação Getúlio Vargas (FGV CEPESP).

Deixe seu comentário