O mercado de trabalho brasileiro ordinariamente já contava com cerca de 40% de trabalhadores alocados no segmento informal. A crise precipitada pela pandemia de coronavírus, que veio quando a economia ainda não havia se recuperado totalmente da forte recessão dos anos 2015 e 2016, “expõe uma outra parte dos trabalhadores que, costumeiramente, estariam protegidos ou, ao menos, não sob ameaça sistemática de desemprego, redução da renda ou outro fator”, indica a segunda nota técnica da rede de políticas públicas e sociedade formada para estudar as políticas públicas de combate à pandemia e seus efeitos. Sob o título “A vulnerabilidade dos trabalhadores brasileiros na pandemia da Covid-19”, o estudo mostra que “o resultado líquido da pandemia é a duplicação do contingente de trabalhadores que vivem sob riscos de saúde/epidemiológicos e econômicos. São, ao todo, 75,5 milhões de trabalhadores que se encontram em posições consideradas vulneráveis em algum grau”.
O estudo mapeou vulnerabilidades tanto de posições (vínculos formais ou informais, conta própria, empregador, servidor público) como setoriais (setor essencial ou não essencial) e também considerou o tamanho das empresas. Os 75,5 milhões representam 81% da força de trabalho e, entre eles, 23,8 milhões são de pessoas que concentram vulnerabilidades tanto em função de seus vínculos e posições frágeis, como em decorrência de choques e impactos setoriais, de acordo com o trabalho assinado pelos pesquisadores Rogério Jerônimo Barbosa, Ian Prates e Thiago de Oliveira Meireles.
A tabela abaixo resume os resultados da pesquisa:

Os pesquisadores também mapearam a distribuição regional dos trabalhadores de acordo com sua vulnerabilidade e a conclusão é que ela é “razoavelmente homogênea”. “Ou seja, os trabalhadores identificados como mais vulneráveis, seja em São Paulo ou no Maranhão, respectivamente o estado mais rico e o mais pobre do país, estão igualmente sujeitos à perda significativa do emprego e/ou deterioração da renda. Esses trabalhadores, que ocupam posições e vínculos mais instáveis em setores não essenciais, pertencem ao grupo dos extremamente vulneráveis”, indica a nota técnica.
Os pesquisadores concluem que “a infeliz novidade é que a crise atual trouxe para a condição de vulnerabilidade uma massa de trabalhadores tradicionalmente protegidos ou detentores de vícunlos e posições estáveis. São exatamente esses trabalhadores que, neste momento, merecem estar no centro das atenções das políticas mais ambiciosas de proteção social, para mitigar os efeitos da crise e evitar consequências de larga escala sobre o emprego, a renda e o bem-estar das famílias”.