Nos 56 anos do golpe de 64, é bom lembrar: Ditadura nunca mais!

CEPESP  |  1 de abril de 2020
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Por George Avelino*

Nos dias em que se completam 56 anos do Golpe de 1964 é momento para relembrarmos o passado, avaliarmos o presente e olharmos para o futuro. Naquele 31 de março, os militares com apoio de parcela significativa de lideranças civis e empresariais, depuseram o presidente João Goulart quando faltava pouco mais de um ano para as eleições presidenciais marcadas para 1965.

A “pressa” dos apoiadores civis era determinada pelo temor de um golpe socialista, uma “fake news” da época e, vejam só, por causa do mau desempenho da economia que vivia um processo inflacionário. Boa parte das lideranças civis que apoiaram o governo, portanto, o fizeram na expectativa de que o novo governo, nascido do golpe às instituições democráticas, durasse apenas o tempo necessário para “arrumar os rumos da economia e do país”. Com a recusa dos militares em devolver o poder aos civis, e a repressão que se seguiu, muitas dessas lideranças se aliaram à oposição democrática e desempenharam papel importante na luta contra as prisões arbitrárias, torturas e assassinatos de opositores praticados pelos apoiadores da ditadura.

São Paulo, 2019, ato “Ditadura Nunca Mais” na avenida Paulista com a presença da sociedade civil sindicatos e movimentos sociais. Foto Paulo Pinto/Fotos Publicas

O desastre político e social (com o aumento da desigualdade e, ironicamente, a alta inflação) legados pelos 21 anos da última ditadura militar não pode ser esquecido. Nos dias de hoje, devido à crise do Coronavírus, o país encontra-se em uma encruzilhada sobre como lidar com a pandemia. Mais uma vez, existem aqueles que argumentam que, dada a “ineficiência” das instituições democráticas brasileiras, o combate à pandemia somente poderia ser feito por um novo período autoritário, tornando o governo capaz de impor a ordem necessária para derrotar o vírus, mesmo que isso implique em reviver as atrocidades do passado por determinado período.

A outra alternativa seria apostar ainda mais na democracia, reforçar os programas públicos voltados aos mais pobres, assim como as redes de solidariedade privada. A cooperação, generosidade e o envolvimento de todos, necessários para a luta contra o vírus, daria oportunidade para reconstruirmos as pontes entre os diferentes atores políticos e setores da sociedade, curando feridas antigas, permitindo refazer o pacto social e democrático que orientou os que lutaram contra a ditadura militar. Ditadura nunca mais!

*George Avelino é professor da FGV e coordenador do Cepesp/FGV

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