Por Guilherme Russo*
O Auxílio Emergencial tem um papel fundamental em atenuar impactos sociais da crise econômica ligada à pandemia. E dado o número de beneficiários e um valor considerável, se for estendido, o programa levaria a uma redução grande da pobreza e desigualdade no país. É natural que um programa desse tamanho também tenha impacto na política. Há evidências que o auxílio tem evitado uma queda maior da popularidade de Bolsonaro, porque a avaliação do presidente entre os grupos de renda mais baixa caiu menos. Ou seja, não parece levar a um aumento, mas sim a uma menor queda.
Debates sobre potenciais implicações eleitorais desse resultado são importantes, mas partem para um terreno de hipóteses baseadas em algumas premissas. Primeiro, falta bastante tempo para as eleições de 2022, e sabemos das dificuldades financeiras que a manutenção do programa exige. Assim, o Auxílio Emergencial pode deixar de ser um tema tão relevante até lá. Segundo, as evidências do impacto focam apenas na avaliação do presidente, e não em cenários nos quais o presidente Bolsonaro concorre com outras lideranças, como Lula, Ciro, Moro ou Haddad.
Terceiro, mesmo que o programa seja relevante na disputa política nacional, deverá haver uma disputa sobre quem deve receber “os créditos” pelo programa. Vale lembrar que o governo inicialmente enviou um projeto de auxílio de 200 reais, e foram os parlamentares que expandiram o número de beneficiários e valor para 500 reais, e no final, o governo propôs um valor de 600 reais. Essa negociação parece não ter passado despercebida. Quando perguntados quem é o principal responsável pelo programa, 47% dos brasileiros dizem que é o Congresso Nacional e 38% citam o presidente Bolsonaro.
Além do mais, em um artigo publicado no Portal Jota em coautoria com Felipe Nunes e Frederico Batista, mostramos que o impacto do Auxílio sobre a aprovação parece ser bem menor quando o presidente não é visto como responsável. Isso significa que, além da necessidade que seja duradouro, para que o programa realmente ajude o presidente na eleição, será necessário que ele receba “o crédito”. É verdade que o presidente parece estar buscando receber esse crédito em novas campanhas publicitárias, mas ainda não está claro se isso terá efeitos reais.

No artigo, também descrevemos um experimento de survey que buscava ilustrar essa disputa de reivindicação de crédito pelo Auxílio. Parte dos respondentes à pesquisa online leu um parágrafo que descrevia a negociação do governo e Congresso sobre o valor do auxílio, enquanto outra parte leu esse parágrafo, e depois perguntamos sobre a avaliação do presidente para avaliar o impacto da discussão sobre quem merece o crédito.
Os resultados indicam que a informação sobre os debates do auxílio não afeta a avaliação do presidente. Por outro lado, ao ler mais sobre a negociação, os respondentes passaram a ter uma visão mais favorável em relação ao Congresso. Isso indica que enquanto o presidente parece não perder com a disputa de quem merece o crédito, ele também parece não ganhar.

Considerando essas e outras premissas, ainda é cedo para estimarmos se e como o Auxílio Emergencial terá impacto eleitoral na tentativa de reeleição do presidente Bolsonaro. Até lá, temos não só as eleições municipais que devem reorganizar as dinâmicas políticas locais, mas também a pandemia, crise econômica e outros desafios urgentes que podem acabar sendo mais relevantes nos debates políticos futuros.
*Pesquisador do Cepesp