O cientista político Marcus Melo, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador associado ao Centro de Política e Economia do Setor Público, o CEPESP, da FGV, concedeu uma ótima entrevista ao jornalista Christian Klein, do jornal Valor Econômico, sobre o cenário político brasileiro em 2018.
Destacamos algumas respostas que tratam de temas quentes e importantes ao CEPESP. Leia abaixo!
Valor: Lula conseguirá ser candidato a presidente?
Marcus Melo: Todos os desdobramentos são marcados pelas incertezas, mas as evidências do padrão do TRF-4 indicam a sustentação da condenação. Haverá judicialização, o caso chegará à Corte Suprema e o STF terá que se manifestar. Tudo se encaminha para Lula não ser candidato.
Valor: Com a condenação é provável que venha também a prisão?
Melo: Aí o cenário é mais nebuloso ainda. Mas a prisão interessa menos aos atores envolvidos do que a condenação. Como solução em futuro não muito distante, pode haver um perdão presidencial. A conciliação é uma tradição nossa desde 1853 com o Marquês do Paraná [primeiro-ministro do período imperial que reuniu liberais e conservadores em seu ministério]. A anistia ocorreu em todos os períodos monárquicos e republicanos. É usada amplamente e está presente nas melhores democracias, pois há casos dessa natureza, em momentos de grande importância. Gerald Ford anistiou Nixon. Na Revolta da Armada, no fim do regime militar, não me surpreenderia se acontecesse com Lula. Aliás, quase aconteceu com o José Dirceu [o petista recebeu perdão de pena imposta a ele no julgamento do mensalão, mas continuou preso por condenação na Lava-Jato].

Valor: Qual será a marca das eleições de 2018?
Melo: Haverá uma demanda brutal pela renovação, aumentará a chance de outsiders como não se via há décadas, depois dessa exposição pornográfica da corrupção. A escala do que se tem assistido é o equivalente funcional de uma revolução. Um ex-governador e dois ex-presidentes da Câmara estão na prisão, uma presidente foi alvo de impeachment, magistrados julgam um ex-presidente de enorme popularidade. Historiadores no futuro verão essa época como de grande transformação. Por outro lado, nunca se assistiu reação tão grande das forças que operam no viés pró-incumbente. A começar pelo fundo de campanha de quase R$ 2 bilhões e as regras aprovadas que favorecem os detentores dos atuais assentos. O PMDB ou o candidato que ele apoiar estará sentado em mais de R$ 1 bilhão. Mas o saldo líquido será no sentido da renovação.
Valor: Quais são os sinais?
Melo: Tenho uma pesquisa, com Lúcio Rennó e Ivan Jucá, que estima o impacto de escândalos de corrupção sobre as chances de reeleição de deputados federais enter 1994 e 2010. Um escândalo reduz em 18% a probabilidade de recondução ao mandato. Isso em tempos normais. Com a Lava-Jato será muito grande. Por mais recursos que um deputado do PMDB possa mobilizar dificilmente ele vai evitar. O PMDB se tornou tóxico. Não tivemos eleição desde que começou a Lava-Jato, exceto a municipal, no ano passado, quando o PT perdeu 40% de suas prefeituras, antes de muita coisa vir à tona, como escândalo da JBS e da Odebrecht.
Valor: Apesar da fragmentação, o poder do PMDB continua o mesmo ou maior, agora que está na Presidência.
Melo: Tem protagonismo, mas o seu DNA é o de partido não presidencial por excelência. Não tem nome [para eleição ao Planalto], mas tem recursos [políticos]. O PSDB tem nome e alguns recursos. O PT e o PDT não tem máquina política relevante, somente em alguns entes subnacionais, e algum acesso a recursos partidários. O ‘swing voter’, aquele eleitor volátil, que votou em Lula e Dilma a partir de 2002, não volta mais para o PT. Não têm identificação programática com o PT. Aderiram porque o PT produziu ganhos, mobilidade social vertical, inclusão, isso tudo acabou.
Valor: Que candidatos terão vantagem?
Melo: O voto nulo vai crescer muito. A taxa de renovação na Câmara em 2014 foi de 43%. Ela vai se elevar, mas talvez elegendo candidatos dentro das mesmas estruturas. Para os movimentos de renovação, como Agora! e Acredito, creio que poderão ter problemas de coordenação, de acesso aos recursos dos partidos por onde concorrerão.
Valor: Onde haverá renovação de fato?
Melo: Acho difícil que ocorra no nível federal ou nos governos dos Estados porque as barreiras de entrada nestas eleições majoritárias são altas, as campanhas são caras e quase R$ 2 bilhões estarão nas mãos dos partidos. Ocorrerá mais nas eleições proporcionais, via celebridades, por exemplo. Será um processo curioso, mais parecido com o de um queijo suíço.

Leia a entrevista na íntegra clicando aqui: Alckmin é o favorito, afirma analista.
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