Os debates presidenciais programados para o segundo turno foram cancelados em razão da confirmação de que o candidato Jair Bolsonaro (PSL) não compareceria. A decisão faz parte da estratégia do candidato de evitar se prejudicar com a apresentação de propostas impopulares epouco claras, de acordo com a cientista política Lara Mesquita (Cepesp/FGV).
“Detalhadamente, suas propostas podem não ser tão populares, ou eles ainda não têm muita clareza do que de fato eles vão fazer uma vez que [Bolsonaro] assumir o governo”, disse Lara no programa Poder em Foco do SBT.
Para ela, significa que Bolsonaro entendeu que “se eles falarem muito sobre as propostas, pode ser ruim, e eles podem perder votos”.
Por conta de Bolsonaro também não permitir que os responsáveis pelos programas de seu governo, como Paulo Guedes, falem publicamente sobre as propostas, Mesquita pergunta “para aonde esse governo vai exatamente”.
“Por exemplo, não tem nenhum programa na Educação. A gente sabe que o Bolsonaro gostaria de implementar modelos similares às escolas dos militares. Mas o próprio vice, o general Mourão, já disse que é insustentável, porque os colégios militares são caríssimos. Então, qual é a proposta para a Educação?”, questiona a pesquisadora.
Além da Educação, Lara aponta os planos para Saúde e privatizações do possível governo Bolsonaro como pouco evidenciados em suas campanhas. “Não tem nenhuma frase dita sobre o que vai ser feito na área da Saúde. Então, o que você espera do novo governo na área da Saúde?”, pergunta.
Sobre as privatizações, ela acredita que o mercado financeiro reage positivamente à liderança do candidato do PSL, porque aposta na credibilidade de Guedes, mas que a equipe de Bolsonaro não chegou em acordos para exporclaramente o que vai ser privatizado.
“A proposta do Paulo Guedes era privatizar tudo e as maiores [empresa]. Bolsonaro já disse que não, então, não sabe qual vai ser o equilibro nesse meio do caminho, e eles estão deixando para discutir isso depois. Assim, não tem uma clareza de por onde vai a política econômica.”
Jair Bolsonaro lidera intenções de voto com 56% contra 44% de votos para Fernando Haddad, segundo pesquisa Datafolha divulgada ontem, dia 25. O segundo turno das eleições presidenciais acontece neste domingo, 28.
Apesar de gerar dúvidas quanto ao seu governo, a estratégia foi a mais lógica para Bolsonaro. Segundo análise apontada pela pesquisadora do Cepesp sobre segundos turnos das eleições entre 1998 e 2016, é pouco provável virada nos votos. “Candidatos que passam para o segundo turno com 45% das intenções de votos ou mais, e com uma vantagem em relação ao 2° colocado de 15% pontos percentuais ou mais, vencem a eleição em 95% dos casos”.
