O Brasil divide com os Estados Unidos péssimas posições nos rankings de números de casos e óbitos por Covid-19. Desde o início da pandemia até 8 de agosto, os EUA registram 14.929 casos totais por milhão de habitantes (total acumulado até 8 de agosto) e 1.147 novos casos por milhão de habitantes (novos casos de 2/8 até 8/8/2020). Nos mesmos períodos, o Brasil registra 13.937 casos totais por milhão de habitantes e 1.441 novos casos por milhão de habitantes. Em relação aos óbitos, desde o início da pandemia, os EUA relatam que ocorreram 487 óbitos por milhão de habitantes (até 8 de agosto) e o Brasil, 468, enquanto nos EUA são 24 novos óbitos por milhão de habitantes (dados de 2/8 até 8/8/2020), e no Brasil, 33, acima da taxa americana, indica a nota técnica 20 da Rede de Pesquisa Solidária, formada por mais de 70 pesquisadores de diferentes instituições.
Para os pesquisadores, o governo federal estimulou a fragmentação do país e deixou de coordenar a resistência à COVID-19. “A desmobilização do Ministério da Saúde, a desorganização das políticas de testagem e de distanciamento social realçam o fracasso do governo diante da pandemia e a triste liderança assumida pelo Brasil em número de novos óbitos por milhão de habitantes, ultrapassando os Estados Unidos”, resume o estudo. “A falta de mobilização da Estratégia de Saúde da Família, estruturada ao longo dos anos pelo Ministério da Saúde (MS) e pelo SUS enfraquece a resistência da população ao vírus, em especial de sua parcela mais vulnerável”, ponderam.
Para avaliar o desempenho do governo Federal, a Rede pesquisou cada ato do Executivo e do MS desde o início das atividades contra a COVID-19 e identificou a sequência de decisões supostamente voltadas para orientar a reação do país contra a pandemia. “Como se pode notar, as vantagens que o Brasil possuía em termos de estrutura, experiência contra epidemias e mesmo a presteza de atuação logo na chegada do vírus, foram perdidas ou neutralizadas. Atrasos, imprecisões e ambiguidades passaram a desenhar o roteiro de uma grande crise”, pontua a nota técnica.

Apesar da triste constatação, os pesquisadores alertam que “ainda é tempo para controlar a pandemia e evitar mortes desnecessárias”. Para isso, defendem que “o primeiro passo, ainda que difícil, é reposicionar o governo Federal de modo a assumir efetivamente a coordenação dos esforços para combater a pandemia. O país ganharia em coesão, a qualidade da informação aumentaria, a precisão das orientações facilitaria a conscientização e até mesmo o custo financeiro tenderia a diminuir”, argumentam.
Eles acrescentam que os sinais de estabilização da doença em algumas regiões “não devem levar ao relaxamento das medidas de proteção, pois o nível da pandemia ainda é muito alto”. Nesse sentido, eles defendem que “é importante que os gestores públicos e as autoridades estejam atentos e dispostos a massificar efetivamente os testes, investir em estratégias de vigilância, como o rastreamento, a identificação e o isolamento de contatos e de pessoas infectada; deflagrar campanhas de esclarecimento e conscientização sobre a necessidade das medidas de proteção, como o uso das máscaras e o distanciamento físico; interromper declarações de autoridades que minimizam a COVID-19 e tentam, artificialmente, induzir a população que o pior já passou; alterar a legislação para adequar a lista de serviços essenciais e a obrigatoriedade do uso de máscaras como forma de sintonizar o país com as diretrizes da OMS e da Organização PanAmericana de Saúde, entre outras medidas.
A nota técnica 20 foi escrita sob coordenação de Tatiane C. Moraes de Sousa, da FioCruz, e Lorena Barberia , professora do Departamento de Ciência Política da USP e pesquisadora do Cepesp. Este e os demais boletins produzidos pela Rede de Pesquisa Solidária podem ser acessados aqui.