Por Guilherme A. Russo, Jairo Pimentel Jr. e Rafael Coelho
Fernando Haddad do PT recebeu aproximadamente 29% dos votos válidos no primeiro turno da eleição presidencial. É o pior resultado para o PT desde 1994.
Não é segredo que, desde a primeira metade do governo Dilma, o PT vem perdendo apoio no eleitorado nacional. O impeachment, os resultados das eleições municipais de 2016 e, agora, a eleição presidencial de 2018 evidenciam que o partido tem grandes desafios para reconquistar o apoio que teve em outrora.
Talvez o maior desafio para o PT seja reconquistar grande parte dos eleitores da classe D (quem ganha entre 2 a 4 salários mínimos de renda familiar, segundo o IBGE). Olhando para a primeira pesquisa feita pelo Datafolha no segundo turno das últimas eleições, vemos que houve uma perda progressiva do PT em praticamente todas as classe sociais nos últimos 8 anos, mas de maneira mais acentuada na classe D.

Ainda que o recorte do Datafolha não seja preciso para retratar essa classe social (uma vez que usa a categoria de 2 a 5 SM), as pesquisas indicam uma queda de 12 pontos percentuais nas intenções de votos válidos para Haddad em 2018 em relação a Dilma em 2014 entre eleitores deste grupo.
Em 2010, Dilma tinha a maioria (54%) das intenções de voto dentro dessa classe. Já em 2014, mesmo começando o segundo turno atrás de Aécio Neves, e tendo minoria (46%) dos votos dessa classe na primeira pesquisa, a ex-presidente acabou chegando aos 50% entre estes eleitores na última pesquisa do Datafolha.
Em 2018, no entanto, Haddad apareceu na primeira pesquisa do segundo turno com apenas 34% dos votos válidos dentro desta classe. Isto representa uma queda de 12 pontos entre 2014 e 2018, e uma diferença de 20 pontos para eleitores da classe E (quem ganha até 2 SM de renda familiar).
É interessante notar que, da classe AB (aqueles que ganham acima de 10 SM de renda familiar) à classe D, Bolsonaro tem desempenho bastante homogêneo, acima dos 65% das intenções de votos válidos. Haddad vence somente entre os eleitores de classe E (que ganham menos de 2 SM de renda familiar), e ainda assim por pequena vantagem, com 54%.
Bolsonaro conseguiu algo que PSDB não foi capaz de fazer nas últimas eleições: captar grande parte dos eleitores mais pobres, a despeito inclusive do próprio Datafolha indicar que 65% dos eleitores enxergam Bolsonaro como candidato que defende os interesses dos mais ricos.
É importante ressaltar, também, que os dados eleitorais indicam que a queda de votos do PT foi diferente nas cinco macrorregiões do país. Enquanto no Nordeste e Norte, a diminuição de votos foi mais tênue, aproximadamente 16 e 26 pontos percentuais respectivamente, no Centro-Oeste a queda foi de 36 pontos, no Sudeste, de 41, e no Sul, de 45 pontos. Nesse sentido os eleitores de classe E parecem ser os redutos eleitorais do PT ainda fiéis, sobretudo os do Norte/Nordeste do Brasil.
Mesmo assim, há exceções interessantes dentro do próprio Nordeste. Comparado a 2014, Haddad perdeu 35 pontos percentuais em relação a Dilma no Ceará (a maior queda em todo o Brasil), estado onde Ciro Gomes teve seu melhor desempenho. Já Pernambuco, terra do falecido candidato Eduardo Campos, foi o único estado em que o candidato do PT teve mais votos comparado à última eleição: um ganho de 6 pontos percentuais.
O epílogo da eleição de 2018 coloca desafios distintos para Bolsonaro e o PT.
Bolsonaro, virtualmente eleito, precisará demonstrar que é capaz de lidar com a questão econômica e não apenas fazer fumaça nos temas concernentes aos valores morais e ao conservadorismo. Grande parte da classe C e D deixou de votar no PT, porque a economia desandou e o emprego mingou. Se Bolsonaro não conseguir cumprir com a expectativa de melhora, é provável que esse grupo não mantenha seu apoio no futuro.
Já para o PT, o desafio é manter seus nichos atuais e recuperar o apoio eleitoral nas eleições vindouras, principalmente entre aqueles da classe D. Pode parecer pouco, comparado ao que o PT já conseguiu. Mas, em tempos de implosão das forças políticas tradicionais, não é lá dos piores desafios.
Texto originalmente publicado no site Valor Econômico.
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Guilherme A. Russo é doutor em Ciência Política pela Vanderbilt University e pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV)
Jairo Pimentel Jr. é doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV)
Rafael Coelho é estudante de Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP) e pesquisador assistente do Centro de Política e Economia do Setor Público (Cepesp/FGV)