O governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já contabiliza 20 ministros definidos. Os integrantes das pastas foram escolhidos sem indicação de partidos ou negociações de troca de cargos e verbas, modelo de governo seguido pelos presidentes do país desde a redemocratização.
Segundo o pesquisador do Cepesp/FGV Cláudio Couto, o novo jeito de governar de Bolsonaro não significa o fim do chamado presidencialismo de coalização. “Eu não creio que acabe, porque o presidencialismo de coalizão no Brasil não é o resultado de uma escolha presidencial, mas de uma estrutura institucional”, disse Couto ao Globo News Painel.
Além de mudar o processo de formação ministerial, a estratégia do presidente eleito é recusar a negociação partidária de votações, mas sim buscar apoio entre as bancadas temáticas na Câmara dos Deputados, principalmente a ruralista, a evangélica e a da segurança pública.
Para Couto, essa mudança pode não funcionar, porque as bancadas transversais não têm recursos institucionais. “Toda a estrutura de funcionamento do Congresso se alicerça sobre os partidos. Então fazer a transição de uma fórmula para outra exigiria transferir para as bancadas recursos institucionais e eu acho muito difícil que isso ocorra”, observou o cientista político.
A chegada de muitos novatos na política também é novidade que pode prejudicar a forma de governar de Bolsonaro. Dos 52 deputados eleitos pelo PSL, 47 nunca haviam ocupado cargos na política. Segundo Couto, a inexperiência deles dificulta a negociação direta com as bancadas temáticas, porque atrapalha a organização do processo de votação e a disciplina na hora de votar.
“Mesmo para orientar os seus pares, definir como eles vão se comportar, isso leva um tempo, tem um aprendizado, e aí a tendência é que os mais experientes tenham mais peso”, pontua o pesquisador do Cepesp/FGV. Para ele, isso significa que, de alguma forma, a velha política ainda “vai continuar a dar as cartas neste novo processo no Congresso”.
Não só a política interna de Bolsonaro gera dúvidas quanto a seus resultados, mas a política externa também é arriscada de acordo com Couto. Isso porque Bolsonaro, com forte personalismo nos Estados Unidos de Donald Trump, está “se amarrando de tal forma ao destino do governo Trump que se der errado lá, carrega ele junto”, segundo o cientista político.
“O Brasil não tem a capacidade de fazer uma política externa com esse grau de protagonismo que, por exemplo, os norte-americanos fazem”, concluiu Couto.