Como entender o comportamento da elite política brasileira a partir da análise experimental

CEPESP  |  29 de outubro de 2012
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Feliciano de Sá Guimarães é professor de Relações Internacionais da ESPM e, durante os anos 2008 e 2009, foi pesquisador visitante em Ciência Política na Universidade de Yale. Em parceria com Paolo Spada, hoje fellow da Kennedy School of Government da Universidade de Harvard, Guimarães realizou uma pesquisa sobre o comportamento dos atores políticos brasileiros. Em um trabalho inicial realizado em 2008, a intenção de Guimarães e Spada foi investigar se os candidatos a cargos públicos no Brasil investiam mais tempo e energia para conquistar o voto daqueles eleitores que já se identificavam com seus partidos (descritos na literatura como “core voters) ou se a dedicação era maior ao atrair aqueles eleitores neutros ou indecisos (conhecidos como os “swing voters”).

Para calcular esse comportamento, os pesquisadores utilizaram métodos da análise experimental que consiste em interferir ativamente no ambiente político e avaliar o comportamento dos atores envolvidos no experimento. Dessa forma, foram enviados e-mails de eleitores fictícios (a partir de contas de Gmail criadas por eles) com perguntas para cerca de 1 mil  candidatos a vereador. O número de respostas e o perfil dos eleitores que recebiam um retorno positivo dos políticos serviram de base para a análise. O resultado desta pesquisa inicial, que compara dados das eleições municipais de 2008 no Brasil à eleição nacional da Itália de 2006, culminou na publicação, em 2009, do artigo “Investigation Elite Behavior Through Field Experiments: Do Candidates Answer More to Core or Swing Voters?“. Nele, concluiu-se que enquanto os políticos italianos abordavam mais os swing voters, no caso brasileiro, não havia uma diferença significativa entre as taxas de resposta para eleitores partidários ou indecisos, havendo, contudo, uma ligeira maior incidência nas respostas para os eleitores que demonstravam ser do mesmo espectro ideológico do candidato contatado.

Em um segundo momento, Guimarães e Spada, com colaboração dos cientistas políticos Gabriel Cepaluni, da USP, e  Holger Kern, da University of South Carolina, decidiram expandir a análise e, nas eleições para deputado estadual e federal de 2010, mandaram e-mails para 11 mil candidatos. Além de enviar perguntas relacionadas às plataformas políticas dos candidatos, os pesquisadores inseriram, no texto dos emails, sinais que indicavam o posicionamento político do eleitor fictício, sua classe social e seu gênero.  As conclusões desse segundo experimento estão reunidas no working-paper “On Politician’s Office-Seeking Behaviour: Evidence From a Pair of Field Experiments in Brazil” e foram apresentadas pelo professor Guimarães, durante seminário promovido pelo Cepesp, na FGV-SP.

“Percebemos que a característica do eleitor core ou swing não influenciou significativamente na taxa de resposta dos candidatos. Por outro lado, questões como gênero ou etnia foram decisivos”, diz Guimarães. Os e-mails com nomes indígenas, por exemplo, tinham menores probabilidades de receber uma resposta. “O possível preconceito contra as mulheres foi o nosso maior achado. Foi surpreendente para nós perceber que deputados estaduais com maior escolaridade eram os que menos responderam as eleitoras”, conta Guimarães. Já os candidatos a deputado estadual com menor escolaridade tinham maiores probabilidades tanto de responder as mulheres como os eleitores que evocavam uma classe social mais baixa, ou pela formulação do nome ou por erros de português contidos propositadamente nas mensagens.

Percebeu-se também que o partido do candidato, seja de direita, centro ou esquerda, não influencia no tempo investido para responder aos eleitores. “Nesse quesito, PT é igual a PMDB, que é igual ao PSDB. Já os partidos menores da esquerda mais radical, como o PSTU e o PCO, foram os que mais responderam os email, até porque precisam mais desesperadamente de eleitores”, explicou.
Para conhecer os outros eixos de discussão pesquisa de Feliciano Guimarães, assista aos vídeos da palestra:

Feliciano Guimarães – parte 1

Feliciano Guimarães – parte 2

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