Quando os elos econômicos da Europa ameaçaram ceder, primeiro na Grécia, depois em Portugal, Espanha e Itália, o fracasso foi imediatamente creditado aos políticos. Não demorou para que primeiro-ministro grego Georgios Papandreou sofresse a primeira baixa, seguido pelo italiano Silvio Berlusconi. No lugar dos políticos afastados, assumiram líderes com perfil mais técnico que prometiam botar ordem nas finanças.
A cientista política Maria Rita Loureiro e o pesquisador de Cepesp Fernando Abrucio exploram esse fenômeno desencadeado com a crise de 2008 e analisam como a crise econômica repercutiu na imagem de eficiência das instituições políticas do Brasil e do mundo.
“Grande parte dos autores atuais em Economia vê a política como espaço de irracionalidade, a ação estatal como geradora de ineficiências para o mercado e as práticas democráticas como obstáculos à eficácia das políticas econômicas”, explicam os autores em “Democracia e eficiência: a difícil relação entre política e economia no debate contemporâneo”.
No artigo publicado na Revista de Economia Política, os pesquisadores traçam um histórico da concepção da política como a arena da irracionalidade e ineficiência econômica. Os autores mostram como este pensamento está enraizado na teoria econômica do século XX e que, infelizmente, essa mentalidade foi absorvida também por parte importante da literatura da Ciência Política.
A partir de uma revisão bibliográfica dos escritos de Keynes e Schumpeter, autores centrais na economia que elaboraram uma visão teórica baseada na dicotomia entre democracia e eficiência econômica, Abrucio e Loureiro recuperam a literatura da Ciência Política deste século e propõem uma mudança de paradigma. É crucial, segundo eles, recuperar o papel central e legítimo da política democrática em relação ao seu desempenho de políticas públicas e econômicas.
“Mesmo mostrando os limites da capacidade analítica e da racionalidade técnica para resolver completamente os conflitos de valores e de interesses que têm gerado guerras, violência, pobreza, incapacidades e sofrimento de toda ordem, Lindblom & Woodhouse afirmam que a racionalidade ou a inteligência do processo democrático consiste na capacidade de incorporar o conhecimento técnico e a análise racional à política e não a sua exclusão recíproca”.
Segundo os autores, defender este argumento é tanto mais importante em razão da necessidade de
superar a atual crise econômica na Europa e nos Estados Unidos. Para isso, serão necessárias ações que conciliem o conhecimento técnico e a eficiência da política democrática.
“Solucionar os atuais problemas por modelos tecnocráticos é uma forma de mostrar o quanto a lógica antipolítica — para não dizer antidemocrática — predominante no período neoliberal ainda vigora sob seus escombros”, alertam.
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